Bem, a ecogenicidade é uma medida relativa do eco do ultra-som em determinado órgãos. Se está aumentada difusamente, sugere alterações esparsas pelo fígado. A infiltração adiposa no fígado, também conhecida como esteatose hepática, não é bem uma doença, mas é um sintoma comum ao início de algumas, como cirrose, hepatite, diabetes descompensado, triglicérides elevados, etc.
A esteatose é habitualmente um processo reversível. A remoção dos fatores causais leva à mobilização da gordura acumulada e restauração do aspecto normal. Porém, a persistência prolongada da esteatose, associada a outras agressões, p. ex. alcoolismo, pode levar a uma destruição progressiva dos hepatócitos, com fibrose difusa do parênquima e perda da arquitetura funcional do fígado, chamada cirrose hepática.
Caberia ainda determinar se a função bioquímica do fígado está normal, e fazer outros exames complementares para determinar a causa da esteatose.
Answers & Comments
Verified answer
Bem, a ecogenicidade é uma medida relativa do eco do ultra-som em determinado órgãos. Se está aumentada difusamente, sugere alterações esparsas pelo fígado. A infiltração adiposa no fígado, também conhecida como esteatose hepática, não é bem uma doença, mas é um sintoma comum ao início de algumas, como cirrose, hepatite, diabetes descompensado, triglicérides elevados, etc.
A esteatose é habitualmente um processo reversível. A remoção dos fatores causais leva à mobilização da gordura acumulada e restauração do aspecto normal. Porém, a persistência prolongada da esteatose, associada a outras agressões, p. ex. alcoolismo, pode levar a uma destruição progressiva dos hepatócitos, com fibrose difusa do parênquima e perda da arquitetura funcional do fígado, chamada cirrose hepática.
Caberia ainda determinar se a função bioquímica do fígado está normal, e fazer outros exames complementares para determinar a causa da esteatose.
Abçs
ALTERAÇÕES MORFOMÉTRICAS NO TIMO, BAÇO E PLACAS DE
PEYER DURANTE A EXPOSIÇÃO PRÉ E PÓS-NATAL AO ÁLCOOL
RESUMO: O alcoolismo materno em seres humanos e animais de laboratório tem sido implicado no
desenvolvimento de distúrbios imunológicos em recém-nascidos. O apresente estudo foi realizado a fim de
analisar, através de métodos histomorfométricos, os efeitos da ingestão crônica de etanol em ratos pré e pos-natal
em tecidos provenientes do timo, fígado e placas de Peyer de recém-nascidos. O modelo experimental utilizou
ratos Wistar machos, cujas mães receberam o etanol (3g/Kg do peso de corpo) da gestação ao desmame (40
dias). O grupo controle (GC) e grupo etanol (GE) receberam dieta comercial normal. As preparações histológicas
dos tecidos foram coradas com Hematoxilina-eosina eTricômico de Masson para o estudo morfológico e
histoquímico. A análise morfométrica foi realizada através do software OPITMASTM 6.1. Os resultados obtidos não
demonstraram diferenças significativas nas contagens do leucócitos periféricos e nos pesos corporais entre os
grupos estudados. Os filhotes do GE exibiram um aumento significativo no número total, bem como na área e
volume do folículo linfóide no baço. No timo, não houve uma redução significativa dos corpúsculos de Hassall
entre o GE e GC. No grupo etanol foi observado uma infiltração de colágeno intersticial e adipócitos nos lóbulos do
timo. As placas de Peyer apresentaram uma redução significativa no número total de placas e de folículos
linfóides. Entretanto, nenhuma alteração foi observada na área ou no volume de ambas as estruturas quando
comparadas ao grupo de controle. Os resultados sugerem que o alcoolismo maternal durante os períodos pré e
pot-natal contribui com alterações histológicas importantes nos órgãos linfóides dos animais descendentes.
Palavras-chaves: Baço, Placas de Peyer´s, Etanol.
Veiga, R.K.A. et al./Revista Eletrônica de Farmácia Vol IV ol.
INTRODUÇÃO
O alcoolismo é um dos maiores problemas de saúde pública mundial. O consumo de álcool tem impacto
nos diferentes sistemas orgânicos, por exemplo, no sistema nervoso central, no trato gastrointestinal, nos órgãos
hematopoiéticos e no sistema imune.
Por ser uma molécula pequena, solúvel em água e lipídios, o etanol permeia todos os tecidos e pode,
quando em uso crônico e abusivo, causar uma ampla variedade de alterações sistêmicas .
A exposição pré-natal ao etanol causa anormalidades físicas e mentais nos recém-nascidos. Experimentos
desenvolvidos em roedores (ZHU & SEELIG, 2000), e pesquisas em seres humanos comprovam os efeitos
embriotóxicos do etanol sobre os tecidos (SCHLEIFER et al., 2002).
Dentre as seqüelas importantes que amplificam os efeitos teratogênicos do álcool inclui-se a desnutrição
materna, a disfunção placentária e os distúrbios na formação dos órgãos (SHIBLEY et al., 1999). Após a descrição
da síndrome do alcoolismo fetal, desenvolveram-se diferentes modelos animais para compreender melhor como o
consumo materno de álcool durante a gravidez poderia afetar os recém-nascidos, nos demais órgãos além do
cérebro (MELO-JÚNIOR et al., 2001; BRITO et al., 2005).
Embora as deficiências da resposta imune primária tenham sido descritas (COCARLA et al., 2002; SHER,
2003), ainda não está esclarecida se as alterações patológicas nos órgãos linfóides no alcoolismo fetal
representam uma causa ou uma conseqüência da injúria sofrida pelo organismo.
Baseando-se nesses dados, este estudo teve a finalidade de investigar os efeitos da exposição crônica
materna ao etanol durante a gestação e a lactação sobre a imuno-arquitetura do timo, baço e placas de Peyer dos
descendentes.
MATERIAIS E MÉTODOS
Aspectos Éticos - O protocolo experimental desenvolvido no presente trabalho foi submetido e aprovado pela
comissão de ética em experimentação animal da Universidade Federal de Pernambuco.
Animais e Dietas - Para o acasalamento foram colocadas em cada gaiola três ratas fêmeas e um macho da
linhagem Wistar. A gestação era confirmada pela identificação de células descamativas, muco gestacional e
espermatozóides ao exame microscópico (Microscópio Zeiss 25, 10x). Posteriormente as matrizes foram
separadas de acordo com o protocolo experimental, no máximo duas por gaiola, e ali mantidas até o 18o dia de
gestação. A partir deste período foram transferidas para gaiolas individuais até o final do aleitamento (25o dia de
vida dos filhotes).
No período compreendido entre o primeiro dia de gravidez e o último do aleitamento, as matrizes foram
mantidas com dieta comercial LABINA® contendo 23% de proteínas, com dois tratamentos por gavagem
(administração diária de água filtrada ou de etanol). A gavagem foi executada sempre entre às 7:00 e 9:00 horas
da manhã. Os filhotes das matrizes assim tratadas originaram os dois grupos experimentais desse trabalho,
descritos a seguir:
GRUPO CONTROLE (GC; n=12) – oriundos de mães mantidas com a ração LABINA® e recebendo doses
de 3,8 ml de água filtrada. Assim, as matrizes desse grupo foram submetidas ao mesmo estresse, causado pela
contenção e gavagem, sofrido pelas gestantes do grupo etanol;
GRUPO ETANOL (GE; n=10) – procriados por matrizes mantidas com LABINA® e recebendo etanol na
dose de 3g/kg de peso corporal, diluído em água filtrada, em volume total de 3,8 ml (Álcool Etílico Absoluto P.A. –
VETEC®, Lote: 013471);
No terceiro dia após o parto executou-se a sexagem excluindo-se as fêmeas devido à conhecida influência
dos hormônios sexuais femininos no metabolismo do álcool (BERMAN et al., 1996). Os filhotes machos de cada
grupo experimental, gerados por diferentes matrizes, foram misturados entre si e mantidos em ninhadas de 4 a 6
animais. A padronização do tamanho da ninhada teve como objetivo eliminar a desnutrição induzida por grandes
ninhadas durante a lactação (DE LUCA et al., 1997).
Após o desmame, a administração de substâncias por gavagem foi interrompida e os filhotes foram
mantidos com a dieta LABINA® correspondente até o dia da perfusão (40 dias).
Veiga, R.K.A. et al./Revista Eletrônica de Farmácia Vol IV (1), 32-42, 2007
34
34
Peso corporal - Os animais foram pesados a partir do 3o dia após o nascimento até o 40o dia de vida. A opção
pela pesagem a partir do 3o dia após o nascimento foi decorrente da observação de aumento da agressividade e
canibalismo entre as matrizes submetidas ao tratamento com etanol, quando os filhotes eram manipulados nos
dois primeiros dias de vida.
Perfusão - Aos 40 dias de vida os filhotes foram pesados e anestesiados, por via intraperitonial, com solução
contendo uretana a 10% (1g/Kg) e cloralose a 0,4% (40 mg/Kg) de acordo com o peso corporal. Antes da
perfusão, foi feita a coleta de sangue e confeccionados estiraços em lâminas histológicas, para proceder a
contagem diferencial dos leucócitos. Para execução da perfusão procedeu-se ampla abertura do tórax para
exposição do coração. Após a injeção de 0,1 ml de heparina (Liquemine®) no ventrículo esquerdo, para evitar a
coagulação sangüínea, introduziu-se na mesma região uma cânula de polietileno (por onde foram injetadas as
soluções de perfusão) e concomitantemente fez-se a abertura do átrio direito.
Desta forma, tanto o sangue quanto às soluções de perfusão eram eliminadas por aquela abertura. Após o
bloqueio da aorta abdominal com uma pinça hemostática procedeu-se a perfusão com o auxílio de um compressor
com pressão regulada em torno de 90 mmHg. Para a remoção do sangue e manutenção da integridade tecidual
injetou-se através da cânula um volume em torno de 100 a 150ml de uma solução de tampão fosfato de sódio
(PBS) 0,1M, pH 7.2, contendo 0,9% por volume de NaCl. A seguir, perfundiu-se um volume em torno de 150 a 300
ml de formaldeído a 10%, diluído em PBS, controlando-se a fixação do tecido pelo volume inoculado e a rigidez da
cabeça e dos membros. Finalizada a perfusão procedeu-se à retirada do timo, baço e intestino em seguida
mergulharam-se os mesmos em formalina a 10% tamponada.
Microtomia e Histoquímica - Após a fixação (tempo mínimo de 48h), foram cortados três regiões eqüidistantes
do baço e timo, medindo aproximadamente 0,2 cm. Para o intestino delgado, foram selecionadas porções da
borda anti-mesentérica que continham nodulações (Placas de Peyer) visualizadas através de lupa estereoscópica
(OLYMPUS).
Todos os fragmentos foram submetidos à rotina histológica e incluídos em parafina. Os cortes histológicos
(4μm) foram obtidos em micrótomo horizontal Yamato (Japan) e corados com Hematoxilina-Eosina e Tricômico de
Masson.
Análise Morfométrica e estatística - A análise morfométrica foi realizada através de um sistema computacional
de análise de imagens (softwares TCI-Pro® e OPTIMASTM 6.1). Foram obtidos o número (magnificação 400x),
área e volume médio (magnificação 200x) dos folículos linfóides do baço e das placas de Peyer, através da
análise de quatro campos aleatórios por lâmina.
Foi obtido o número médio de corpúsculos de Hassal na região medular dos lóbulos tímicos, analisandose
10 campos por lâmina (área do campo = 12.234 μm2).
As medidas obtidas foram submetidas ao estudo estatístico utilizando-se os Testes t de Student e de
Tukey, com p< 0,05, através do software PRISMA 3.0®.
RESULTADOS
O peso dos filhotes não diferiu estatisticamente entre o grupo etanol (63,6g) e grupo controle (52,3g),
desde o nascimento até a idade experimental.
A contagem diferencial dos leucócitos no sangue periférico dos grupos estudados, não apresentou
variações estatisticamente significativas, principalmente nas populações de linfócitos (Tabela 1). Todos os
animais apresentaram contagem leucocitária dentro dos padrões normais para a espécie segundo dados de
HARKNESS & WAGNER (1993).
Tabela 1. Contagem diferencial de leucócitos do sangue periférico de ratos Wistar (40 dias) expostos ao álcool
durante o período pré e pós-natal.
GRUPO
CÉLULA * Álcool (n = 12) Controle (n = 10)
Basófilos 0,2 0,2
Segmentados 26,2 26,1
Linfócitos 66,8 67,3
Eosinófilos 1,8 1,6
Monócitos 5,0 4,8
* Valores médios (%).
Veiga, R.K.A. et al./Revista Eletrônica de Farmácia Vol IV (1), 32-42, 2007
35
35
Não foram observadas alterações macroscópicas quanto à morfologia externa, a cor e textura do baço,
timo e intestino delgado nos grupos estudados.
As principais alterações microscópicas concentram-se na polpa branca onde se observou aumento
estatisticamente significativo do número total de folículos assim como, do número de folículos secundários no
grupo álcool. (Tabela 2).
Tabela 2. Número médio total de folículos e folículos secundários por segmento do baço de ratos Wistar expostos
ao álcool durante o período pré e pós-natal.
GRUPO
CONTAGEM CONTROLE ÁLCOOL p
NTF
44,55 ± 5,85
53,77 ± 8,39 *
*(p < 0,05)
NFS 6,44 ± 4,06 23,66 ± 3,04 ** **(p < 0,01)
NTF (Número Total de Folículos); NFS (Número de Folículos Secundários).
Os centros germinativos dos folículos linfóides, principalmente no grupo etanol, são esferóides,
apresentando zona clara e escura, devido aos diferentes tamanhos e estados de amadurecimento dos linfócitos e
células do tipo reticulares predominantes (Figura 1).
Da mesma forma, tanto a área como o volume dos folículos linfóides totais apresentou diferença
estatística significativamente maior (46,67%) no grupo etanol quando comparado ao controle (Tabela 3).
Tabela 3. Valores médios da área e volume dos folículos linfóides esplênicos de ratos Wistar expostos ao álcool
durante o período pré e pós-natal.
GRUPO ÁREA (μm2) VOLUME (μm3)
Controle 26407,55 ± 10603,8 3842647,05 ± 1575478
Álcool 35919,22 ± 3178,0* 5636302,20 ± 1304591**
* (p < 0,05) ** (p< 0,01).
No timo, a avaliação quantitativa do número médio de corpúsculos de Hassal (Figura 2A) demonstrou que
o grupo etanol apresentou um número significativamente menor quando comparado ao grupo controle (Figura 3).
Figura 1. Folículo linfóide secundário no baço de rato jovem. Pode se
observar centro germinativo na região interna do folículo (seta). Grupo etanol,
HE. Magnificação 100x.
Veiga, R.K.A. et al./Revista Eletrônica de Farmácia Vol IV (1), 32-42, 2007
36
36
Figura 2. Caracteres histológicos do timo resultantes da exposição crônica ao etanol em ratos jovens. (A)
Corpúsculo de Hassal (seta); (B) Infiltrado de células adiposas no parênquima tímico (seta). Magnificação: A
(400x) e B (100x). Coloração em A, Hematoxilina-Eosina) e em B, Tricrômico de Masson.
A B
Da mesma forma constatou-se que havia um padrão mais intenso de infiltrações de adipócitos entre os
lóbulos tímicos e uma maior deposição de colágeno intersticial (Figura 2B) no grupo etanol quando comparado ao
controle.
O estudo histológico das placas de Peyer não evidenciou diferença morfológica qualitativa entre o grupo
etanol e o grupo controle. Em relação ao número de folículos por placa observou-se que era variável nos dois
grupos, sendo mais freqüente a presença de dois a três em cada uma delas (Figura 4).
Figura 3. Número médio de corpúsculos de Hassal no timo de ratos jovens expostos ao álcool
durante o período pré e pós-natal.
GC GE
0
1
2
3
4
5
Grupo
No de corpúsculos
3,48 ± 1,05
2,90 ± 0,87
Veiga, R.K.A. et al./Revista Eletrônica de Farmácia Vol IV (1), 32-42, 2007
37
37
Figura 4. Aspecto geral de uma placa de Peyer no intestino delgado de rato jovem. Observa-se a
presença de quatro folículos linfóides. Grupo etanol, HE. Magnificação, 100x.
O estudo dos dados morfométricos obtidos demonstrou que houve diferença significativa em relação ao
número de placas e de folículos linfóides entre os grupos (Tabela 4). O grupo controle apresentou um número
mais significativamente elevado de placas (15,2 ± 1,48) quando comparado ao grupo exposto ao etanol (9,8 ±
1,30; p < 0,01); bem como, uma quantidade maior de folículos (41,2 ± 5,76) em relação ao grupo álcool (30,0 ±
8,83; p < 0,05).
Tabela 4. Número médio total de folículos e de placas de Peyer de ratos Wistar expostos ao álcool durante o
período pré e pós-natal.
Grupo
Padrão
Controle Álcool
p
NTP 41,2 ± 5,6 30,0 ± 8,8 ** **(p < 0,05)
NTF 15,2 ± 1,4 9,8 ± 1,3 * *(p < 0,01)
NTP (Número Total de Placas); NTF (Número Total de Folículos)
Os demais parâmetros avaliados (área e volume das placas; área e volume dos folículos) não diferiram
estatisticamente (Tabela 5).
Tabela 5. Valores médios da área e volume das placas de Peyer e folículos linfóides totais no intestino delgado de
ratos Wistar (40 dias) expostos ao álcool durante o período pré e pós-natal.
Área (μm2) Volume (μm3)
Grupo Placas Folículos Placas Folículos
Controle
448,8 ± 51,8
112,8 ± 29,7
4290,8 ± 109,8
1240,8 ± 119,0
Álcool 417,3 ± 45,7 157,3 ± 49,8 4460,8 ± 332,0 1480,4 ± 246,2
Veiga, R.K.A. et al./Revista Eletrônica de Farmácia Vol IV (1), 32-42, 2007
38
38
DISCUSSÃO
O alcoolismo como tema de estudos é sempre atual, devido suas conseqüências sócio-econômicas, além
da repercussão no próprio indivíduo, com ação tóxica sobre órgãos e tecidos desencadeando diferentes
mecanismos lesionais. Estudar seus efeitos não é uma tarefa simples, principalmente quando se avalia suas
implicações nos compartimentos imunológicos. Os resultados são freqüentemente contraditórios devido a forte
influência de co-fatores principalmente em pesquisas clínicas, como comportamento individual, cultura, tradição e
condição sócio-econômica. Desta forma torna-se importante o estudo dos efeitos do álcool em condições
controladas para se reconhecer à amplitude dos diferentes efeitos desta substância sobre o organismo
(GUERRINI et al., 2007).
O estudo dos órgãos linfóides é um aspecto de fundamental importância na demonstração das alterações
dos compartimentos imunológicos quando expostos a agentes estranhos ao organismo (ROTH et al., 2006). Daí o
nosso interesse em avaliar o comportamento das células e tecidos envolvidos na resposta imune quando
submetidas a uma injúria por um agente teratogênico, como o álcool.
Os resultados, quanto às curvas de pesos dos animais de ambos os grupos estudados, não mostraram
variações significativas, diferentemente dos observados em outro estudo, em que se constatou um decréscimo do
peso corporal, atribuído principalmente pela diminuição na produção e ingestão de leite pelos filhotes (TAVARES
et. al., 1999; JOSHI et al., 2003).
No presente trabalho, as contagens diferenciais de leucócitos no sangue periférico mantiveram-se
inalteradas, um resultado de certa forma contraditório face à acentuada hiperplasia linfóide observada no baço.
Na verdade, investigações desses valores no alcoolismo crônico têm mostrado resultados conflitantes.
LIVANT et al. (1997) relatam o aumento de leucócitos periféricos, principalmente linfócitos. Por outro lado também
foi demonstrado o aumento de linfócitos no sangue periférico de ratos, quando havia interação entre a exposição
pré-natal ao etanol e o estresse pelo frio (GIBERSON, 1997). Em mulheres etilistas e fumantes, foram
demonstradas variações no número de leucócitos circulantes, resultando em leucopenia, atribuíveis à distúrbios
funcionais do baço (ZHU & SEELIG, 2000).
No timo, a análise quantitativa do número médio de corpúsculos de Hassal não mostrou existir diferenças
entre os dois grupos estudados. Entretanto, o grupo etanol apresentou um aumento de infiltrado de células
adiposas entre os folículos tímicos bem como deposição de colágeno intersticial. Estudos anteriores afirmam que
após o nascimento, o timo começa a involuir, resultado de seu processo de atrofia, e é infiltrado por células
adiposas (HALASZ et al., 1993; WANG & SPITZER, 1997).
Outros trabalhos também sugerem que a excessiva exposição ao etanol in vivo induz a atrofia tímica em
ratos desde a vida uterina (WANG & SPITZER, 1997). Em razão destes relatos e da nossa observação de que há
maior deposição de fibras colágenas e infiltração adiposa no parênquima tímico do grupo etanol acreditamos que
esta substância realmente acelera o processo de atrofia tímica. Tal observação é crítica pelo fato de permitir supor
que o alcoolismo materno interfere em uma importante etapa do desenvolvimento do sistema imune dos filhotes,
ou seja, a maturação da imunidade celular.
A formação dos órgãos linfóides inicia-se durante o período embrionário e fetal e sua maturação é
concluída após o nascimento. Desta forma, no animal recém-nascido a população linfocitária presente no baço,
linfonodos e tecido linfóide associado às mucosas pode ser reduzida se fatores bloqueadores interferirem na
proliferação linfocitária nos órgãos linfóides primários (SILVA et al., 2006).
Em um modelo experimental desenvolvido com camundongos observou-se que no início da gestação os
linfócitos migram do timo e da medula óssea para o intestino originando ali as placas de Peyer (BRITO et al.,
2005). Sendo esse tecido linfóide estruturado durante a vida fetal não ocorre formação de novas placas após o
nascimento (LIMA et al., 2002; CRABB et al., 2004).
Por outro lado, observou-se que nesses animais a exposição crônica ao álcool induz atrofia do timo,
responsável por 80% dos linfócitos presentes nas placas (WATZL & WATSON, 1992). Assim, mesmo
considerando as diferenças entre os animais utilizados, podemos deduzir que a redução do número total de placas
e folículos linfóides intestinais detectados no nosso experimento foi causada pelo mesmo fator, isto é, a atrofia
tímica. Paradoxalmente observamos que a área e o volume das placas e dos folículos nelas presentes não
sofreram alterações.
Estes dados sugerem que embora haja interferência do etanol na migração dos linfócitos tímicos, aqueles
que migraram foram suficientes para proliferar e formar placas e folículos linfóides, embora em menor número,
com dimensões semelhantes ao grupo controle. Embora seja patente que a exposição ao etanol resulta em
alterações no comportamento desse tipo celular esses achados são de difícil interpretação.
A depleção (hipoplasia) folicular, em outros órgãos linfóides e diretamente associada ao consumo de
etanol, já foi relatada em seres humanos e animais de laboratório (HALASZ et al., 1993; GILBERSON, 1997;
LASO et al., 1996). Sabe-se que o consumo de álcool induz diretamente a uma supressão de macrófagos e
células M, responsáveis pela captação e apresentação de antígenos aos linfócitos e também, uma redução
Veiga, R.K.A. et al./Revista Eletrônica de Farmácia Vol IV (1), 32-42, 2007
39
39
significativa no número de células produtoras de IgA, principal componente da resposta imune pelas placas de
Peyer (DIAMOND & GORDON, 1997; LOPES et al., 1994).
Assim, a hipoplasia linfocitária estaria relacionada a esse efeito e a outros fatores imunodepressores
álcool induzidos já relatados por ESTRADA et al. (1996). Estes autores encontraram alterações intestinais, como
diminuição da absorção e da flora microbiana reduzindo assim a exposição dos animais descendentes a antígenos
que utilizam a mucosa intestinal como porta de entrada (BUTS et al., 1992; MELO-JUNIOR et al., 2006). Essas
condições justificariam, portanto os resultados obtidos por LOPEZ et al. (1997) que demonstrou haver uma
redução no número total de células linfocitárias nas placas de Peyer de ratos jovens e adultos expostos ao etanol.
No nosso entendimento devemos considerar que a divergência dos nossos resultados deve-se a metodologia
empregada no presente experimento.
Diferentemente dos outros autores não executamos o estudo morfométrico durante o período de
exposição ao álcool, pois nossas medidas foram tomadas (40 dias de vida) após uma abstinência de 15 dias a
partir do desmame (25o dia). Nesse contexto, poder-se-ia especular que, com a abstinência ocorreu maior
ingestão de alimentos, restauração da capacidade absortiva intestinal, um fluxo progressivamente maior de
antígenos e eliminação do bloqueio metabólico de macrófagos, células M e linfócitos. A cessação dos efeitos
tóxicos do álcool possibilitou a recuperação dos mecanismos de ativação imune, ocorrendo intensa proliferação
linfocitária o que restabeleceu a área e o volume das placas e folículos existentes, recuperando-se assim, as
dimensões equivalentes as dos animais controle. Esta hipótese é respaldada pelas observações de ESTRADA et
al (1996) que relataram a reversão das alterações estruturais e funcionais do intestino, produzida pelo álcool, após
15 dias de abstinência.
A mensuração dos tecidos linfóides tem sido realizada pela morfometria manual ou utilizando-se sistemas
semi-quantitativos (HALASZ et al., 1993). O método morfométrico digital utilizado neste trabalho tem a vantagem
de poder correlacionar diversos parâmetros entre si, como também fornecer estimativas tridimensionais (volume),
constituindo-se em uma importante ferramenta para melhor classificação dos compartimentos linfóides (MELOJUNIOR
et al., 2001; LIMA et al., 2002).
De fato, o estudo morfométrico da imunoarquitetura dos órgãos linfóides é essencial para a demonstração
dos mecanismos de defesa e para evidenciar as alterações dos mesmos quando o organismo humano ou animal
é exposto a agentes estranhos (BRITO et al 2005).
De acordo com os resultados obtidos neste estudo, no baço, ocorreu modificação nos folículos linfóides,
com aumento do número total, área e volume dos folículos, caracterizando intensa hiperplasia folicular com
aumento expressivo (267%) no número de folículos secundários.
Os resultados obtidos neste estudo são semelhantes quanto à presença de alterações na atividade
folicular esplênica, quando comparados com as observações de outros autores que utilizaram diferentes técnicas
de medição (MELO-JUNIOR et al., 2006).
A hiperplasia dos folículos do baço no grupo etanol, caracterizada principalmente no desenvolvimento de
centros germinativos, provavelmente se deve à presença de linfócitos B, que possuem receptores de superfície na
forma de uma imunoglobulina capaz de realizar ligação direta a antígenos de qualquer tamanho, em solução ou
forma sólida (CULVERHOUSE et al., 2005).
Acredita-se que durante a resposta imunitária, as células linfocitárias B de memória ocupam a região do
centro germinativo esplênico (GODLETT et al., 2005), evidenciando que uma das conseqüências do grande
número de folículos secundários no grupo exposto ao etanol no presente estudo pode ser resultado da ativação
deste tipo celular, tanto para mobilizar defesas, como para montar uma "memória imunológica" para essa
substância. Embora seja conceptível que a exposição ao etanol, por mecanismos diretos e indiretos ainda não
esclarecidos, tenha resultado na ativação desse tipo celular, esses achados são de difícil interpretação.
Em relação a exposição ao etanol nos períodos pré e pós-natal, nossos resultados confirmam as
conclusões de SZABO (1999), onde o etanol causa alterações no desenvolvimento imune fetal, sendo neste caso
a lactação também o período crítico de maior sensibilidade do sistema imunológico.
O etanol mostrou ser uma substância que interfere no timo e na formação dos centros germinativos e
maturação das placas de Peyer durante o período pré-natal. Demonstrando-se que a habilidade das células
imunes em responder a estimulação antigênica pode ser afetada também por fatores intrínsecos (idade, genética,
outros estados patológicos associados) e extrínsecos (desnutrição, estresse ambiental), o que explica a
diversidade de resultados, em geral obtidos através de metodologias diferentes (MELO-JUNIOR et al., 2001; LIMA
et al., 2002).
Embora se possa cogitar que tal efeito tenha tido início durante a vida fetal, uma conclusão definitiva a
este respeito só poderia ser formulada se os animais tivessem sido examinados imediatamente após o
nascimento. Não obstante, CHVATCHKO et al (1996) afirmaram que o desenvolvimento de centros germinativos é
quase inteiramente resultante da estimulação antigênica pós-natal.
Vale ressaltar que neste modelo experimental, antígenos outros além do etanol, podem ser transferidos da
mãe aos descendentes; por exemplo, antígenos alimentares e/ou contaminação por bactérias do próprio ambiente
em que os recém-nascidos viveram. Em recém-nascidos humanos, a prevalência de centros germinativos no
Veiga, R.K.A. et al./Revista Eletrônica de Farmácia Vol IV (1), 32-42, 2007
40
40
baço, com aumento rápido após o nascimento, evidenciando dois fatos importantes, a ausência de deficiência na
resposta imune celular fetal e evidências de estimulações antigênicas precoces.
Na pesquisa do alcoolismo em modelos animais, muitas questões podem ser simplificadas em relação ao
estudo em humanos e tal possibilidade facilita a sensibilidade e precisão dos resultados a fim de se estabelecer
melhores medidas de tratamento do consumo exagerado do álcool (HANNIGAN, 1996; GUERRINI et al., 2007).
Nesse contexto, o modelo experimental utilizado no presente trabalho, nos parece fornecer informações
importantes sobre os efeitos da exposição ao etanol nos períodos pré e pós-natal sobre a imunoarquitetura
intestinal, isto é, ocorre: 1) redução significativa (35,53%) no número médio de placas de Peyer em ratos jovens;
2) diminuição no número total de folículos linfóides das placas de Peyer no intestino delgado (27,2%); 3) não há
variação estatisticamente significativas na área e no volume das placas e folículos linfóides entre os grupos
estudados.
CONCLUSÕES
A análise dos resultados obtidos pela metodologia empregada nos permite concluir que não há variação
estatisticamente significativa da contagem diferencial de leucócitos no sangue periférico, peso médio corporal
entre os grupos estudados.
No timo não há diferença significativa do número de corpúsculos de Hassal entre o grupo etanol e o grupo
controle. Entretanto, existe maior deposição de colágeno intersticial e infiltrado de adipócitos entre os lóbulos
tímicos no grupo etanol.
Nos animais do grupo etanol houve um aumento estatisticamente significativo nos seguintes parâmetros
do baço: número total de folículos; área e volume médios dos folículos e número de folículos secundários.
Nas placas de Peyer, O etanol determinou uma redução significativa no número médio e no número total
de folículos linfóides das placas de Peyer no intestino delgado. Por outro lado, não houve variações
estatisticamente significativas na área e volume das placas e folículos linfóides entre os grupos estudados.