O branco açúcar que adoçará meu café
Nesta manhã de Ipanema
Não foi produzido por mim
Nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
Vejo-o puro
E afável ao paladar
Como beijo de moça, água
Na pele, flor
Que se dissolve na boca. Mas este açúcar
Não foi feito por mim.
Este açúcar veio
Da mercearia da esquina e
Tampouco o fez o Oliveira,
Dono da mercearia.
Este açúcar veio
De uma usina de açúcar em Pernambuco
Ou no Estado do Rio
E tampouco o fez o dono da usina.
Este açúcar era cana
E veio dos canaviais extensos
Que não nascem por acaso
No regaço do vale.
Em lugares distantes,
Onde não há hospital,
Nem escola, homens que não sabem ler e morrem de fome
Aos 27 anos
Plantaram e colheram a cana
Que viraria açúcar.
Em usinas escuras, homens de vida amarga
E dura
Produziram este açúcar
Branco e puro
Com que adoço meu café esta manhã
Em Ipanema.
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Já vi uma música que a letra lembra isso ai.
Quem trabalha mais, não participa do banquete
Cidadão
(Lucio Barbosa)
Tá vendo aquele edifício moço
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Eram quatro condução
Duas prá ir, duas prá voltar
Hoje depois dele pronto
Olho prá cima e fico tonto
Mas me vem um cidadão
E me diz desconfiado
"Tu tá aí admirado?
Ou tá querendo roubar?"
Meu domingo tá perdido
Vou prá casa entristecido
Dá vontade de beber
E prá aumentar meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer...
Tá vendo aquele colégio moço
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Fiz a massa, pus cimento
Ajudei a rebocar
Minha filha inocente
Vem prá mim toda contente
"Pai vou me matricular"
Mas me diz um cidadão:
"Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar"
Essa dor doeu mais forte
Por que é que eu deixei o norte
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava
Mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer...
Tá vendo aquela igreja moço
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá foi que valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse:
"Rapaz deixe de tolice
Não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asa
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar
Muito lindo mesmo. Um simples açucar custa muito sofrimento de gente que sequer conhecemos. Deveriam ser reconhecidos esses trabalhores, e não levarem uma vida cheia de dores. Para todo mundo a vida é dificil, mas isso não justifica a exploração do sacrificio.
Muito lindo... é impressionante como os poetas conseguem transformar as coisas mais simples em verdadeiras obras de arte...
Adorei!
Woooooooow!!!!!!!!!, sin palabras, pues no hay sufiecientes para halagar tu exquisito gusto poético.
Felicidades, es un homenaje a la gente trabajadora y poco apreciada de tu país. Muy bien por tí, son los pilares de toda nación.
De fato...uma viagem cheia de realidade e poesia. Linda!
abraços!!
Triste realidade! Nnguém valoriza nada.Todo mundo só quer saber de conforto...bjks
Pior é que muitas vezes esse mesmo alimento não vai para a mesa de quem o produz
Esta poesia realmente nos faz refletir sobre de onde vem tudo aquilo que consumimos com tanta facilidade e muitas vezes desperdiçamos.
Por traz de cada alimento há uma história de sacrifício.
bacana!
essa poesia,vai me dar um sono gostoso ,lembrando de todas estas palavras .
abraço.
†Natasha...,
Minha amiga eu gostei do seu poema, obrigada.
Sorriso de Açúcar
Moça estranha aquela,
Que tinha um sorriso nos olhos,
Quando chegava até mim.
Parecia um sorriso sincero,
Mas, hoje, não penso assim
Lembrando daquele sorriso
E também do esquecimento
Dessa falta de atenção
E de outras coisas mais,
Do até breve, que eu já vou,
E do ôi!, que eu já voltei,
Que sempre nos fazem tão bem.
Hoje penso diferente:
Aquele sorriso de açúcar,
"Made in Germany", talvez,
Não é um sorriso da alma;
É um sorriso automático,
Programado pra sorrir
Como um forno microondas
Ou um "timer" de tv.
Por isso o que eu lhe escrevi
Desescrevo tudo agora,
Ou escrevo tudo ao contrário;
E se algo lhe entreguei,
Entreguei equivocado,
Que os endereços que eu tinha,
Com certeza estavam errados
E a moça, destinatária,
Hoje sei que não conheço,
Pois devo reconhecer,
Que tal moça é o avesso
Daquilo que um dia pensei
Fosse afeto e fosse apreço.
Um abraço, Helda