Quem é comunicador ou se interessa pelo tema, sabe que ao longo dos anos todo homem e toda mulher acumulam conhecimentos e "causos" muito interessantes que, via de regra, rendem artigos e pautas de trabalho. Comigo não é diferente, e, entre as muitas histórias que tenho para contar, lembro de uma muito peculiar, que envolve o imaginário popular paraense, trata-se da simpatia do tamaquaré, difundida pelas benzedeiras e raizeiras do Mercado do Ver-O-Peso, em Belém do Pará.
Lembro-me de uma vez, quando ainda trabalhava em um jornal da cidade. Tudo começou logo após deixar meu posto de plantão na Assembléia Legislativa do Estado e depois de passar a tarde toda ouvindo discursos de deputados das mais diversas matizes ideológicas, acompanhei alguns colegas até uma bodega próxima ao Mercado do Ver-O-Peso, para tomar um caldo de cana e comer um pastel.
Lá pelas tantas, chegou um senhor de aparência e compleição física muito forte. Figura que logo em sua chegada chamou a atenção dos freqüentadores do recinto, que, com grande alarido chamavam por seu apelido: Fala Tamaquaré! Cadê tua esposa Tamaquaré? A patroa deixou tu sair hoje Tamaquaré?
Não precisa citar que a encarnação era tanta, que até quem não conhecia o aclamado cidadão, não pôde se furtar a rir do apelido. Curioso e sem saber ao certo o que se passava, indaguei a algumas pessoas próximas o motivo de tanta galhofa. Um velho pescador que tomava uma "maldita" ao meu lado, apressou-se em contar a desgraça do amigo.
"Ih rapá, ai do homem que cair na mão do tamaquaré! O cara fica besta besta p´ra mulher".
Mais curioso ainda, indaguei outras pessoas para me aprofundar na "questão". Contaram-me que o vulgo Tamaquaré se chamava Vitorino Leão (nome fictício para não denunciar o pobre homem), elemento temido e respeitado nas beiras do Ver-O-Peso, macho até de baixo d´água, já tendo pescado um Mero sozinho. Até que um dia se meteu com uma cabocla da região do Salgado, pela qual apaixonou-se perdidamente.
Ninguém entendeu como um homem como Vitorino ficou manso da noite para o dia. Contam as comadres mais experientes, que tudo foi por causa do tamaquaré. A cabocla, que se chamava Mariana, para domar o seu homem, recorreu a uma velha simpatia da floresta: pegou um tamaquaré, que é um pequeno e manso lagarto da região Amazônica, pôs nas mãos do bicho um bilhete com o nome do amado Vitorino. Depois colocou o tamaquaré em uma rede e ninou para que ele dormisse. "Dorme tamaquaré!", "Dorme tamaquaré!", dizia ela. E quando o lagarto dormiu, Vitorino Leão amansou. Dizem que até hoje ele é manso como um lagarto ao sol.
Agora você pergunta: o que tamaquaré tem a ver com uma coluna sobre comunicação? Simples nobre batráqueo!
No dia-a-dia da comunicação, lidamos com uma gama de simbolismos e significados que remetem nossos leitores, ouvintes ou espectadores a fazer uma conotação sobre alguma coisa ou fato, segundo a carga cultural, social e educacional que possuem. Assim, o desejo, o pensamento e a formação das opiniões, se dão em um nível intelectual próprio de cada um, com suas decodificações e leituras únicas.
O simbolismo da estória do tamaquaré, traduz uma mistura entre uma crença vigente no local onde tive minha formação sócio-histórica, com uma vivência própria, que experimentei junto com as pessoas que estavam no mesmo local e momento que eu, no caso, a bodega próxima ao Mercado do Ver-O-Peso. Tal fato, marcou-me tanto pela força das convicções daqueles que me relataram o caso de Vitorino, como pelo ineditismo que envolve.
A comunicação social também é formada pela junção de experiências pessoais únicas em si e de histórias de paixão, como a de Vitorino e Mariana. Do mesmo modo como Mariana lançou mão de uma possibilidade que só é mensurável em sua psique, comunicação para mim, também deve ser medida por cada um, de modo a entendê-la por sua vivência.
Fazendo essa junção psicológica com os conhecimentos científicos que envolvem, entendo que a comunicação só pode ser compreendida em sua totalidade e, por quem realmente é apaixonado por ela, sendo construída e "amansada" no dia-a-dia de quem gosta e acredita no que faz.
EM TEMPO - Tamaquaré é também uma espécie de madeira ( louro) do Brasil.
Em uma lenda do rio Negro, segundo Rodolfo von Ihering, o tamaquaré "figura como não temendo o fim do mundo, porque, pegando fogo na Terra, ele se salvaria, ou subindo nas árvores ou sumindo na terra ou pulando no rio; e depois, quando tudo ardesse, ele exclamaria: Chá mamu! (Eu morro!)".
Tamaquaré ou taquaré é um réptil lacertílio do gênero Enyalius, que ocorre na Amazônia e freqüentemente se encontra sobre os troncos e galhos de árvores também chamadas de tamaquarés. É uma lagartixa verde, com manchas pardas e uma crista rudimentar no dorso, que atinge trinta centímetros de comprimento e passa horas nos troncos, imóvel à espreita dos insetos de que se alimenta. Acossado, pula com rapidez à água. Sua paciência e esperteza valeram-lhe a admiração dos índios, que acreditavam adquirir as mesmas qualidades se levassem no corpo, como amuleto, um pedaço de tamaquaré seco.
Aplicado a árvores, o nome tamaquaré designa várias espécies amazônicas do gênero Caraipa da família das gutíferas, que dão flores brancas, aromáticas, e cujo tronco exsuda um bálsamo-resina utilizado contra doenças da pele (sarna, herpes). Há uma dança indígena, que imita os movimentos da lagartixa, igualmente chamada de tamaquaré.
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Conquista
Estado: Pará
Grau de bizarrice: alto
´
O que vai usar: tamaquaré (espécie de lagarto)
O que fazer: amarre um tamaquaré no pé da cama do amado e diga: "Tamaquaré, tamaquaré, faça com que fulano seja tão manso quanto você é".
Grau de dificuldade: difícil, onde dá para achar um tamaquaré fora do Pará e como convencer o cara a deixar amarrar o bicho na cama ?
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Quem é comunicador ou se interessa pelo tema, sabe que ao longo dos anos todo homem e toda mulher acumulam conhecimentos e "causos" muito interessantes que, via de regra, rendem artigos e pautas de trabalho. Comigo não é diferente, e, entre as muitas histórias que tenho para contar, lembro de uma muito peculiar, que envolve o imaginário popular paraense, trata-se da simpatia do tamaquaré, difundida pelas benzedeiras e raizeiras do Mercado do Ver-O-Peso, em Belém do Pará.
Lembro-me de uma vez, quando ainda trabalhava em um jornal da cidade. Tudo começou logo após deixar meu posto de plantão na Assembléia Legislativa do Estado e depois de passar a tarde toda ouvindo discursos de deputados das mais diversas matizes ideológicas, acompanhei alguns colegas até uma bodega próxima ao Mercado do Ver-O-Peso, para tomar um caldo de cana e comer um pastel.
Lá pelas tantas, chegou um senhor de aparência e compleição física muito forte. Figura que logo em sua chegada chamou a atenção dos freqüentadores do recinto, que, com grande alarido chamavam por seu apelido: Fala Tamaquaré! Cadê tua esposa Tamaquaré? A patroa deixou tu sair hoje Tamaquaré?
Não precisa citar que a encarnação era tanta, que até quem não conhecia o aclamado cidadão, não pôde se furtar a rir do apelido. Curioso e sem saber ao certo o que se passava, indaguei a algumas pessoas próximas o motivo de tanta galhofa. Um velho pescador que tomava uma "maldita" ao meu lado, apressou-se em contar a desgraça do amigo.
"Ih rapá, ai do homem que cair na mão do tamaquaré! O cara fica besta besta p´ra mulher".
Mais curioso ainda, indaguei outras pessoas para me aprofundar na "questão". Contaram-me que o vulgo Tamaquaré se chamava Vitorino Leão (nome fictício para não denunciar o pobre homem), elemento temido e respeitado nas beiras do Ver-O-Peso, macho até de baixo d´água, já tendo pescado um Mero sozinho. Até que um dia se meteu com uma cabocla da região do Salgado, pela qual apaixonou-se perdidamente.
Ninguém entendeu como um homem como Vitorino ficou manso da noite para o dia. Contam as comadres mais experientes, que tudo foi por causa do tamaquaré. A cabocla, que se chamava Mariana, para domar o seu homem, recorreu a uma velha simpatia da floresta: pegou um tamaquaré, que é um pequeno e manso lagarto da região Amazônica, pôs nas mãos do bicho um bilhete com o nome do amado Vitorino. Depois colocou o tamaquaré em uma rede e ninou para que ele dormisse. "Dorme tamaquaré!", "Dorme tamaquaré!", dizia ela. E quando o lagarto dormiu, Vitorino Leão amansou. Dizem que até hoje ele é manso como um lagarto ao sol.
Agora você pergunta: o que tamaquaré tem a ver com uma coluna sobre comunicação? Simples nobre batráqueo!
No dia-a-dia da comunicação, lidamos com uma gama de simbolismos e significados que remetem nossos leitores, ouvintes ou espectadores a fazer uma conotação sobre alguma coisa ou fato, segundo a carga cultural, social e educacional que possuem. Assim, o desejo, o pensamento e a formação das opiniões, se dão em um nível intelectual próprio de cada um, com suas decodificações e leituras únicas.
O simbolismo da estória do tamaquaré, traduz uma mistura entre uma crença vigente no local onde tive minha formação sócio-histórica, com uma vivência própria, que experimentei junto com as pessoas que estavam no mesmo local e momento que eu, no caso, a bodega próxima ao Mercado do Ver-O-Peso. Tal fato, marcou-me tanto pela força das convicções daqueles que me relataram o caso de Vitorino, como pelo ineditismo que envolve.
A comunicação social também é formada pela junção de experiências pessoais únicas em si e de histórias de paixão, como a de Vitorino e Mariana. Do mesmo modo como Mariana lançou mão de uma possibilidade que só é mensurável em sua psique, comunicação para mim, também deve ser medida por cada um, de modo a entendê-la por sua vivência.
Fazendo essa junção psicológica com os conhecimentos científicos que envolvem, entendo que a comunicação só pode ser compreendida em sua totalidade e, por quem realmente é apaixonado por ela, sendo construída e "amansada" no dia-a-dia de quem gosta e acredita no que faz.
EM TEMPO - Tamaquaré é também uma espécie de madeira ( louro) do Brasil.
como fazer para consegui um tamaquare
Nâo conheço esse lagarto nâo!!!nâo seria jacurarú!!!
Em uma lenda do rio Negro, segundo Rodolfo von Ihering, o tamaquaré "figura como não temendo o fim do mundo, porque, pegando fogo na Terra, ele se salvaria, ou subindo nas árvores ou sumindo na terra ou pulando no rio; e depois, quando tudo ardesse, ele exclamaria: Chá mamu! (Eu morro!)".
Tamaquaré ou taquaré é um réptil lacertílio do gênero Enyalius, que ocorre na Amazônia e freqüentemente se encontra sobre os troncos e galhos de árvores também chamadas de tamaquarés. É uma lagartixa verde, com manchas pardas e uma crista rudimentar no dorso, que atinge trinta centímetros de comprimento e passa horas nos troncos, imóvel à espreita dos insetos de que se alimenta. Acossado, pula com rapidez à água. Sua paciência e esperteza valeram-lhe a admiração dos índios, que acreditavam adquirir as mesmas qualidades se levassem no corpo, como amuleto, um pedaço de tamaquaré seco.
Aplicado a árvores, o nome tamaquaré designa várias espécies amazônicas do gênero Caraipa da família das gutíferas, que dão flores brancas, aromáticas, e cujo tronco exsuda um bálsamo-resina utilizado contra doenças da pele (sarna, herpes). Há uma dança indígena, que imita os movimentos da lagartixa, igualmente chamada de tamaquaré.