A doença litíásica representa a terceira mais comum doença do trato urinário 1 , após as infecções urinárias e doenças da próstata. Afeta até 5% da população dos paises industrializados
2 . Estima-se que 12% dos homens e 5% das mulheres que vivem 70 anos têm ou tiveram um cálculo 1 . Existem relatos de sua ocorrência datados de 4800 a .C. e descrições de pacientes com sintomas da doença nos registros das sociedades helênicas da antigüidade
3 . Cálculos de bexiga foram descobertos em múmias do Egito, e haviam sido registrados em papiros babilônicos e egípcios
4 . A história da República Brasileira quase foi alterada por um cálculo de bexiga, do qual o presidente Prudente de Morais (1841-1902), era portador.
5 . Afeta a população de três homens para cada uma mulher, principalmente na faixa entre 30 anos a 50 anos de idade
Os paises industrializados e de clima tropical têm maior incidências de cálculos urinários quando comparados aos paises em desenvolvimento, fato decorrente das diferenças entre o tipo de alimentação e a perda hídrica pelo suor
Incide-se na classe social mais alta e a história familiar da doença aumenta em duas vezes a probabilidade de um outro membro da mesma família apresentar também cálculos
Em nossa região, um estudo retrospectivo de 3.307 pacientes que procuram um dos ambulatórios de Urologia do SUS- DEMASP (Sistema Único de Saúde- Departamento Municipal de Saúde Pública) em Barbacena, MG, mostra que 2.482 desses pacientes apresentaram alguma doença urológica, sendo que, o cálculo urinário foi a primeira doença mais freqüente observada na população estudada (9,2%) e que, 73,3 % desses pacientes eram do gênero masculino.
Tabela-1. Distribuição de 2.482 pacientes com Doenças Urológicas.
Prevalência de doença urológica mais comum em ambos os gêneros.
Ambulatório do SUS-DEMASP. Março de 2002 a fevereiro de 2004.
A formação de um cálculo urinário é resultante da precipitação de sais minerais na urina devido a fatores predisponentes, como as alterações bioquímicas da urina e os defeitos do trato urinário 6 . Está relacionado a fatores diversos e extrínsecos que se interagem 4 , como familiares, dietéticos, uso de álcool, baixa ingesta de líquidos, uso de refrigerantes tipo cola, alimentação rica em proteínas animal, sal de cozinha, refinados e vida sedentária 7,3 .
São de importância também, para gênesis dos cálculos, fatores anatômicos obstrutivos em qualquer ponto do trato urinário que levam a estase de urina.
A baixa de citrato na urina é uma das causas importantes na formação de cálculos. O citrato é encontrado nas frutas cítricas, principalmente o limão. O citrato favorece a reabsorção tubular de cálcio impedindo sua precipitação na urina e mantêm o pH (potencial hidrogeniônico) urinário alcalino o que dificulta a precipitação do ácido úrico e como conseqüência, impede a formação desses cálculos. O citrato é um inibidor da cristalização do cálculo de ácido úrico 6,7 . O ácido úrico é um dos principais fatores responsáveis na formação dos cálculos, servindo como núcleo para depósito do oxalato e cálcio normal da dieta. Os cálculos de ácido úrico são comuns em urina ácida. A distribuição incorreta do cálcio no sangue é um dos fatores que levam a formação de cálculos urinários 7 , como também, depósitos desse mineral nas artérias formando placas de ateromas e nas articulações dando artrose. Alguns estudos têm demonstrado que o magnésio associado à piridoxina pode reduzir a formação de cálculo de oxalato de cálcio 8 . Alguns trabalhos mostram que o magnésio contribui para estabilização do cálcio disperso no sangue.
O solo Brasileiro é pobre em magnésio, sugerindo suplementação desse mineral na dieta alimentar, que além de prevenir formação de cálculos previne também arritmias do coração, como extrassístoles.
A principal manifestação clinica do cálculo é a dor. Os cálculos silenciosos cursam com hematúria e piúria. As manifestações víscero–viscerais e reno-intestinais, como náuseas, vômitos, desconforto abdominal, palidez cutâneo mucosa, sudorese e taquicardia 9 são achados freqüentes em pacientes com cólica reno-ureteral. Na clínica observa-se que a dor é inversamente proporcional o tamanho do cálculo, quanto menor o cálculo maior é a dor do doente.
Após o paciente ser medicado para dor, ao iniciar-se a propedêutica prefere-se como exame complementar a tomografia (TC) helicoidal sem contraste do trato urinário, pois é superior ao Ultra-som e ao Rx no diagnóstico dos cálculos; tem a vantagem de não usar contraste e identificar cálculos de ácido úrico que são rádio transparentes, como também, avalia o contorno renal e existência de uronefroses associadas 10 . Pela TC pode-se também avaliar estruturas abdominal adjacentes ao trato urinário 10 . Trabalho realizado por Smith e col., verificou que a TC sem utilização do contraste endovenoso é um excelente método para pesquisas de cálculos ureterais, com valor de predileção negativa de 97,0% , sensibilidade de 97,0%, especificidade de 96,0% e uma acurácia de 97,0% 11 . Tem que se ter cuidado com este método para não haver interpretação equivocada de um flebólito com um cálculo ureteral 12 . Na atualidade, na vigência de uma cólica reno–ureteral, tem-se deixado o ultra-som (US) e o Raio x (Rx) para casos isolados. O US é um bom método para diagnóstico de cálculos nos rins e diagnósticos de uronefrose 11 .
Nos pacientes com doença litiásica também é pertinente solicitar o exame de urina rotina com analise do GRAM do sedimento urinário, para avaliação do pH e afastar uma possível bacteriúria associada. O teste de nitrito na urina é importante, principalmente, quando houver piúria. Uma piúria com teste do nitrito negativo, muito provavelmente não se tratará de doença bacteriana associada a doença litiásica.
O cálculo urinário associado a infecção é grave e merece todo o cuidado. Nesse caso, o doente deverá ter cobertura antibiótica de imediato após colheita da urina para cultura e antibiograma, e quando o trato urinário estiver obstruído proceder-se-a à desobstrução o mais depressa possível.
Os cálculos coraliformes são compostos em sua maioria por fosfato amoníaco- magnesiano (estruvita), precipitando em meio alcalino na presença de bactérias produtoras de uréase, enzima esta, que desdobra a uréia em amônia, alcalinizando a urina, tendo as bactérias como Proteus sp, klebisiella e Pseudomonas, os principais germes envolvidos 13 . Seu aspecto radiográfico é de um cálculo volumoso em forma de coral, daí a origem de seu nome. Ao contrário dos cálculos de ácido úrico, na presença de cálculos caraliforme, a urina deverá ser acidificada, o que se consegue ingerindo uma dieta rica em proteínas.
Cálculos menores que 0,5 mm , têm tendência a serem eliminados espontaneamente 14 . Indica-se tratamento cirúrgico em cálculos menores que 0,5 mm quando estão causando muita dor, e a dor não é responsiva ao tratamento clínico. A cirurgia é obrigatória nos casos de cálculos com impacção em nível do trajeto urinário, cálculos associados a uronefrose e infecções. Na grande maioria dos casos a resolução dos cálculos urinários resolve-se por procedimentos minimamente invasivos, como a litotripsia percutânea trans-nefroscópica e a ureterolitotripsia trans-ureteroscópica 14 , que são feitas rotineiramente no nosso meio, tendo a desvantagem por exigir no procedimento o intercurso da anestesia. A litotripsia extracorpórea (LECO) também é um bom método para resolução dos cálculos em pélvis renal com diâmetros inferiores a 2 cm 15 , tem a vantagem de não necessitar do intercurso da anestesia e a desvantagem de que, quando os cálculos forem fragmentados, em alguns casos, obstruírem o ureter 15,2 causando como complicação o que se conhece no meio urológico como “rua de cálculos”, ou seja, a precipitação e aglomeração dos cálculos fragmentados no ureter da unidade excretora acometida pela doença.
Estudos recentes têm demonstrado maior incidência de hipertensão arterial e queda da função renal 16 , a longo prazo nos pacientes submetidos a este método de tratamento, embora os estudos sejam conflitantes e necessitam de melhores avaliações.
A LECO é contra indicada em pacientes que fazem uso de marca passo, aneurisma da aorta calcificado, gravidez, distúrbios da coagulação, obstrução distal ao cálculo, infecções do trato urinário e obesidade 7 . Em crianças menores de 1,20 m , esse método deve ser evitado devido a dificuldades de posicionamento 7 na mesa de procedimentos . Em crianças que forem ser submetidas a LECO, deve-se proteger os pulmões devido a risco de complicações 7 .
Em pacientes grávidas, com urolitíase, apresentando obstrução importante, dor que não responde ao tratamento clínico e associação com infecção, a conduta na maioria dos centros urológicos é tratar a dor e colocar uma protésis ureteral duplo J na unidade excretora obstruída até a criança vir a nascer, com intuído de resolver o processo obstrutivo e proteção da paciente e do concepto. Caso a dor for responsiva ao tratamento clínico e não houver obstrução total do trato urinário, que pode ser acompanhada pelo US, prefere-se o tratamento conservador 17 .
Após a resolução do cálculo, seja clínico ou cirúrgico é mister fazer um estudo metabólico do doente, juntamente com o estudo cristalográfico do cálculo e avaliação da morfologia e função do trato urinário, com intuído de investigar a etiologia da formação da litíase e propor tratamento profilático na prevenção de recidivas da doença. A doença litiásica do trato urinário é uma doença que aflige grande parte da população mundial e é de alta prevalência e recorrências 18 .
Dr. Dimas José Aráujo Vidigal (1)
1- Membro Titular da Sociedade Brasileira de Urologia (TISBU). Especialista em Urologia pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e Associação Médica Brasileira (AMB). Especialista em Nutrologia pela Sociedade Brasileira de Nutrologia (ASBRAN) e Associação Médica Brasileira (AMB). Pós-Graduado em Saúde Pública pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) SP. Pós-Graduando em Cirurgia em nível de Mestrado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Federal de Minas Gerais (UFMG). Médico Urologista dos Hospitais Policlínica e Maternidade de Barbacena, Hospitais Ibiapaba S/A e Santa Casa de Misericórdia de Barbacena.
Referências do artigo:
1. Lucon Antonio Marmo, Sabbaga Emil. Diagnóstico e Tratamento da Calculose Urinária. Como Eu Faço. Jornal Brasileiro de Urologia.1997; 23(3): p.198-204.
2. Netto Jr Nelson Rodrigues, Wroclaswski Eric Roger. Urologia, Fundamentos para o Clínico. São Paulo: Sarvier, p. 161, 2001.
3. KIEHL Roberto; Ortiz Valdemar. Sinopse de Urologia. Diagnóstico e Tratamento da Litíase Urinária . 2001; ( ano 5): 83-85.
4. SCHOR Nestor; Heilberg Ita Pfeferman, Calculose Renal, Fisiopatologia, Diagnóstico e Tratamento . São Paulo: Savier; 1995: p. 1-2.
5. Da Silva E. Alexsandro. The History Of Brazilian Republic Was Almost Changed By A Bladder Stone. Brazilian Journal of Urology. 2001; 27(1): p.72-77.
6. Barata Henrique Sarmento , Carvalhau Gustavo Franco. Urologia Principio e Prática. São Paulo: Artes Médicas; p.539-545; 1999.
7. Costa Renato Prado. Litíase Urinária, Diagnóstico e Tratamento. Jaú-SP: Paratodos, p.2-4, 1999.
8. Olszewer Efrain.Tratado de Medicina Ortomolecular. São Paulo: Nova Lima; 2ed, p.94, 1997.
9. KIEHL Roberto, Ortiz Valdemar. Sinopse de Urologia, Cólica Renal. 1999, 4( ano 3): p.75-76.
10. SMITH R.C , Rosenfield A . T, Choc K.A. Acute Flank Pain: Comparison of non Contrast, enhanced CT and intravenous Urografy . Radiology. 1995, 194: p. 789-794.
11. Oliveira José Machado A, Molina Fernanda Contreras, Ortiz Valdemar. Sinopse urológica.1998; 2: p.43-6.
12. Smith RC, Verga M, Dalrymple N, McCarthy S, Rosenfield AT. Acute Ureteral Obstruction: Value of Secondary Signs on Helical Unenhanced CT. AJR Am J Radiol 1996: 167: p.1109-1113.
16. Agostinho Aparecido Donizeti, Corrêa Luiz Antônio, Franco Roberto Jorge da Silva, Bacchi Carlos Eduardo, Gobbo Carlos Alberto Monte. Efeitos das Ondas de Choque sobre a pressão arterial, Função e Histopatologia Renal. Jornal Brasileiro de Urologia. 1998; 24(3): p.205-212.
17. Jr. Wilson F.S Busato, Jr. Orlando H. Praun. Cálculo Urinário na Gestação: Aspectos Diagnósticos e Terapêuticos. Urologia Conteporânea. 1999, 5(3): p.121-124.
18. Tiselius Hans-Göran. Brazilian Journal of Urology. Stone Incidence and Prevention. 200; 26(5): p.452-460.
A estenose de junção ureteropélvica (estenose de J.U.P.) é um estreitamento que ocorre no canal que leva a urina dos rins para os ureteres, de onde então a urina escoa para a bexiga e uretra. É uma desordem congênita (o paciente nasce com ela), e provoca (dependendo do grau de estenose) uma dilatação do rim (que chamamos hidronefrose), pela dificuldade de escoamento da urina. Isto facilita o aparecimento de cálculos urinários e infecções, mas muitos pacientes são assintomáticos. Acredito que os cálculos que seu namorado apresenta sejam do mesmo lado da JUP. Assim, para retirada dos outros cálculos, pode ter sido cogitada a possibilidade de litotripsia (LECO), que destrói os cálculos através de ondas ultrassônicas, nova cirurgia, ou outro método. De modo geral, após uma litotripsia, os sintomas mais comuns são a hematúria (presença de sangue na urina) e dor. Outros sintomas são bem menos freqüentes, mas seria aconselhável você conversar com o médico para que ele lhe forneça mais detalhes.
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É a distensão do bacinete e dos túbulos reais em conseqüência de retenção urinária, ou seja, tumores do sistema urinário
TUDO ISSO PARA FALAR EM CÁCULO RENAL!
“Cálculo Renal”
(Litíase urinária)
por Dimas José Araújo Vidigal
Médico Urologista
A doença litíásica representa a terceira mais comum doença do trato urinário 1 , após as infecções urinárias e doenças da próstata. Afeta até 5% da população dos paises industrializados
2 . Estima-se que 12% dos homens e 5% das mulheres que vivem 70 anos têm ou tiveram um cálculo 1 . Existem relatos de sua ocorrência datados de 4800 a .C. e descrições de pacientes com sintomas da doença nos registros das sociedades helênicas da antigüidade
3 . Cálculos de bexiga foram descobertos em múmias do Egito, e haviam sido registrados em papiros babilônicos e egípcios
4 . A história da República Brasileira quase foi alterada por um cálculo de bexiga, do qual o presidente Prudente de Morais (1841-1902), era portador.
5 . Afeta a população de três homens para cada uma mulher, principalmente na faixa entre 30 anos a 50 anos de idade
Os paises industrializados e de clima tropical têm maior incidências de cálculos urinários quando comparados aos paises em desenvolvimento, fato decorrente das diferenças entre o tipo de alimentação e a perda hídrica pelo suor
Incide-se na classe social mais alta e a história familiar da doença aumenta em duas vezes a probabilidade de um outro membro da mesma família apresentar também cálculos
Em nossa região, um estudo retrospectivo de 3.307 pacientes que procuram um dos ambulatórios de Urologia do SUS- DEMASP (Sistema Único de Saúde- Departamento Municipal de Saúde Pública) em Barbacena, MG, mostra que 2.482 desses pacientes apresentaram alguma doença urológica, sendo que, o cálculo urinário foi a primeira doença mais freqüente observada na população estudada (9,2%) e que, 73,3 % desses pacientes eram do gênero masculino.
Tabela-1. Distribuição de 2.482 pacientes com Doenças Urológicas.
Prevalência de doença urológica mais comum em ambos os gêneros.
Ambulatório do SUS-DEMASP. Março de 2002 a fevereiro de 2004.
A formação de um cálculo urinário é resultante da precipitação de sais minerais na urina devido a fatores predisponentes, como as alterações bioquímicas da urina e os defeitos do trato urinário 6 . Está relacionado a fatores diversos e extrínsecos que se interagem 4 , como familiares, dietéticos, uso de álcool, baixa ingesta de líquidos, uso de refrigerantes tipo cola, alimentação rica em proteínas animal, sal de cozinha, refinados e vida sedentária 7,3 .
São de importância também, para gênesis dos cálculos, fatores anatômicos obstrutivos em qualquer ponto do trato urinário que levam a estase de urina.
A baixa de citrato na urina é uma das causas importantes na formação de cálculos. O citrato é encontrado nas frutas cítricas, principalmente o limão. O citrato favorece a reabsorção tubular de cálcio impedindo sua precipitação na urina e mantêm o pH (potencial hidrogeniônico) urinário alcalino o que dificulta a precipitação do ácido úrico e como conseqüência, impede a formação desses cálculos. O citrato é um inibidor da cristalização do cálculo de ácido úrico 6,7 . O ácido úrico é um dos principais fatores responsáveis na formação dos cálculos, servindo como núcleo para depósito do oxalato e cálcio normal da dieta. Os cálculos de ácido úrico são comuns em urina ácida. A distribuição incorreta do cálcio no sangue é um dos fatores que levam a formação de cálculos urinários 7 , como também, depósitos desse mineral nas artérias formando placas de ateromas e nas articulações dando artrose. Alguns estudos têm demonstrado que o magnésio associado à piridoxina pode reduzir a formação de cálculo de oxalato de cálcio 8 . Alguns trabalhos mostram que o magnésio contribui para estabilização do cálcio disperso no sangue.
O solo Brasileiro é pobre em magnésio, sugerindo suplementação desse mineral na dieta alimentar, que além de prevenir formação de cálculos previne também arritmias do coração, como extrassístoles.
A principal manifestação clinica do cálculo é a dor. Os cálculos silenciosos cursam com hematúria e piúria. As manifestações víscero–viscerais e reno-intestinais, como náuseas, vômitos, desconforto abdominal, palidez cutâneo mucosa, sudorese e taquicardia 9 são achados freqüentes em pacientes com cólica reno-ureteral. Na clínica observa-se que a dor é inversamente proporcional o tamanho do cálculo, quanto menor o cálculo maior é a dor do doente.
Após o paciente ser medicado para dor, ao iniciar-se a propedêutica prefere-se como exame complementar a tomografia (TC) helicoidal sem contraste do trato urinário, pois é superior ao Ultra-som e ao Rx no diagnóstico dos cálculos; tem a vantagem de não usar contraste e identificar cálculos de ácido úrico que são rádio transparentes, como também, avalia o contorno renal e existência de uronefroses associadas 10 . Pela TC pode-se também avaliar estruturas abdominal adjacentes ao trato urinário 10 . Trabalho realizado por Smith e col., verificou que a TC sem utilização do contraste endovenoso é um excelente método para pesquisas de cálculos ureterais, com valor de predileção negativa de 97,0% , sensibilidade de 97,0%, especificidade de 96,0% e uma acurácia de 97,0% 11 . Tem que se ter cuidado com este método para não haver interpretação equivocada de um flebólito com um cálculo ureteral 12 . Na atualidade, na vigência de uma cólica reno–ureteral, tem-se deixado o ultra-som (US) e o Raio x (Rx) para casos isolados. O US é um bom método para diagnóstico de cálculos nos rins e diagnósticos de uronefrose 11 .
Nos pacientes com doença litiásica também é pertinente solicitar o exame de urina rotina com analise do GRAM do sedimento urinário, para avaliação do pH e afastar uma possível bacteriúria associada. O teste de nitrito na urina é importante, principalmente, quando houver piúria. Uma piúria com teste do nitrito negativo, muito provavelmente não se tratará de doença bacteriana associada a doença litiásica.
O cálculo urinário associado a infecção é grave e merece todo o cuidado. Nesse caso, o doente deverá ter cobertura antibiótica de imediato após colheita da urina para cultura e antibiograma, e quando o trato urinário estiver obstruído proceder-se-a à desobstrução o mais depressa possível.
Os cálculos coraliformes são compostos em sua maioria por fosfato amoníaco- magnesiano (estruvita), precipitando em meio alcalino na presença de bactérias produtoras de uréase, enzima esta, que desdobra a uréia em amônia, alcalinizando a urina, tendo as bactérias como Proteus sp, klebisiella e Pseudomonas, os principais germes envolvidos 13 . Seu aspecto radiográfico é de um cálculo volumoso em forma de coral, daí a origem de seu nome. Ao contrário dos cálculos de ácido úrico, na presença de cálculos caraliforme, a urina deverá ser acidificada, o que se consegue ingerindo uma dieta rica em proteínas.
Cálculos menores que 0,5 mm , têm tendência a serem eliminados espontaneamente 14 . Indica-se tratamento cirúrgico em cálculos menores que 0,5 mm quando estão causando muita dor, e a dor não é responsiva ao tratamento clínico. A cirurgia é obrigatória nos casos de cálculos com impacção em nível do trajeto urinário, cálculos associados a uronefrose e infecções. Na grande maioria dos casos a resolução dos cálculos urinários resolve-se por procedimentos minimamente invasivos, como a litotripsia percutânea trans-nefroscópica e a ureterolitotripsia trans-ureteroscópica 14 , que são feitas rotineiramente no nosso meio, tendo a desvantagem por exigir no procedimento o intercurso da anestesia. A litotripsia extracorpórea (LECO) também é um bom método para resolução dos cálculos em pélvis renal com diâmetros inferiores a 2 cm 15 , tem a vantagem de não necessitar do intercurso da anestesia e a desvantagem de que, quando os cálculos forem fragmentados, em alguns casos, obstruírem o ureter 15,2 causando como complicação o que se conhece no meio urológico como “rua de cálculos”, ou seja, a precipitação e aglomeração dos cálculos fragmentados no ureter da unidade excretora acometida pela doença.
Estudos recentes têm demonstrado maior incidência de hipertensão arterial e queda da função renal 16 , a longo prazo nos pacientes submetidos a este método de tratamento, embora os estudos sejam conflitantes e necessitam de melhores avaliações.
A LECO é contra indicada em pacientes que fazem uso de marca passo, aneurisma da aorta calcificado, gravidez, distúrbios da coagulação, obstrução distal ao cálculo, infecções do trato urinário e obesidade 7 . Em crianças menores de 1,20 m , esse método deve ser evitado devido a dificuldades de posicionamento 7 na mesa de procedimentos . Em crianças que forem ser submetidas a LECO, deve-se proteger os pulmões devido a risco de complicações 7 .
Em pacientes grávidas, com urolitíase, apresentando obstrução importante, dor que não responde ao tratamento clínico e associação com infecção, a conduta na maioria dos centros urológicos é tratar a dor e colocar uma protésis ureteral duplo J na unidade excretora obstruída até a criança vir a nascer, com intuído de resolver o processo obstrutivo e proteção da paciente e do concepto. Caso a dor for responsiva ao tratamento clínico e não houver obstrução total do trato urinário, que pode ser acompanhada pelo US, prefere-se o tratamento conservador 17 .
Após a resolução do cálculo, seja clínico ou cirúrgico é mister fazer um estudo metabólico do doente, juntamente com o estudo cristalográfico do cálculo e avaliação da morfologia e função do trato urinário, com intuído de investigar a etiologia da formação da litíase e propor tratamento profilático na prevenção de recidivas da doença. A doença litiásica do trato urinário é uma doença que aflige grande parte da população mundial e é de alta prevalência e recorrências 18 .
Dr. Dimas José Aráujo Vidigal (1)
1- Membro Titular da Sociedade Brasileira de Urologia (TISBU). Especialista em Urologia pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e Associação Médica Brasileira (AMB). Especialista em Nutrologia pela Sociedade Brasileira de Nutrologia (ASBRAN) e Associação Médica Brasileira (AMB). Pós-Graduado em Saúde Pública pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) SP. Pós-Graduando em Cirurgia em nível de Mestrado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Federal de Minas Gerais (UFMG). Médico Urologista dos Hospitais Policlínica e Maternidade de Barbacena, Hospitais Ibiapaba S/A e Santa Casa de Misericórdia de Barbacena.
Referências do artigo:
1. Lucon Antonio Marmo, Sabbaga Emil. Diagnóstico e Tratamento da Calculose Urinária. Como Eu Faço. Jornal Brasileiro de Urologia.1997; 23(3): p.198-204.
2. Netto Jr Nelson Rodrigues, Wroclaswski Eric Roger. Urologia, Fundamentos para o Clínico. São Paulo: Sarvier, p. 161, 2001.
3. KIEHL Roberto; Ortiz Valdemar. Sinopse de Urologia. Diagnóstico e Tratamento da Litíase Urinária . 2001; ( ano 5): 83-85.
4. SCHOR Nestor; Heilberg Ita Pfeferman, Calculose Renal, Fisiopatologia, Diagnóstico e Tratamento . São Paulo: Savier; 1995: p. 1-2.
5. Da Silva E. Alexsandro. The History Of Brazilian Republic Was Almost Changed By A Bladder Stone. Brazilian Journal of Urology. 2001; 27(1): p.72-77.
6. Barata Henrique Sarmento , Carvalhau Gustavo Franco. Urologia Principio e Prática. São Paulo: Artes Médicas; p.539-545; 1999.
7. Costa Renato Prado. Litíase Urinária, Diagnóstico e Tratamento. Jaú-SP: Paratodos, p.2-4, 1999.
8. Olszewer Efrain.Tratado de Medicina Ortomolecular. São Paulo: Nova Lima; 2ed, p.94, 1997.
9. KIEHL Roberto, Ortiz Valdemar. Sinopse de Urologia, Cólica Renal. 1999, 4( ano 3): p.75-76.
10. SMITH R.C , Rosenfield A . T, Choc K.A. Acute Flank Pain: Comparison of non Contrast, enhanced CT and intravenous Urografy . Radiology. 1995, 194: p. 789-794.
11. Oliveira José Machado A, Molina Fernanda Contreras, Ortiz Valdemar. Sinopse urológica.1998; 2: p.43-6.
12. Smith RC, Verga M, Dalrymple N, McCarthy S, Rosenfield AT. Acute Ureteral Obstruction: Value of Secondary Signs on Helical Unenhanced CT. AJR Am J Radiol 1996: 167: p.1109-1113.
13. Gugliotta Antonio. Cálculo Coraliforme. Urologia Conteporânea. 1998; 4(3): p.127.
14. Maringolo Marcelo Cólica renal: Como Eu Trato. Urologia Conteporânea. 2000; 6(2): p.50.
15. Uronews. Calculose Renoureteral. Sociedade Brasileira de Informações Urológicas. 1997 , 19: p.4.
16. Agostinho Aparecido Donizeti, Corrêa Luiz Antônio, Franco Roberto Jorge da Silva, Bacchi Carlos Eduardo, Gobbo Carlos Alberto Monte. Efeitos das Ondas de Choque sobre a pressão arterial, Função e Histopatologia Renal. Jornal Brasileiro de Urologia. 1998; 24(3): p.205-212.
17. Jr. Wilson F.S Busato, Jr. Orlando H. Praun. Cálculo Urinário na Gestação: Aspectos Diagnósticos e Terapêuticos. Urologia Conteporânea. 1999, 5(3): p.121-124.
18. Tiselius Hans-Göran. Brazilian Journal of Urology. Stone Incidence and Prevention. 200; 26(5): p.452-460.
A estenose de junção ureteropélvica (estenose de J.U.P.) é um estreitamento que ocorre no canal que leva a urina dos rins para os ureteres, de onde então a urina escoa para a bexiga e uretra. É uma desordem congênita (o paciente nasce com ela), e provoca (dependendo do grau de estenose) uma dilatação do rim (que chamamos hidronefrose), pela dificuldade de escoamento da urina. Isto facilita o aparecimento de cálculos urinários e infecções, mas muitos pacientes são assintomáticos. Acredito que os cálculos que seu namorado apresenta sejam do mesmo lado da JUP. Assim, para retirada dos outros cálculos, pode ter sido cogitada a possibilidade de litotripsia (LECO), que destrói os cálculos através de ondas ultrassônicas, nova cirurgia, ou outro método. De modo geral, após uma litotripsia, os sintomas mais comuns são a hematúria (presença de sangue na urina) e dor. Outros sintomas são bem menos freqüentes, mas seria aconselhável você conversar com o médico para que ele lhe forneça mais detalhes.
Uronefrose. Distensão do bacinete e dos túbulos reais em conseqüência de retenção urinária.