É praticamente impossível analisar a conjuntura política brasileira sem reportamo-nos em algum momento, ainda que de relance, aos anos em que o populismo vigorou no país. Getúlio Vargas é sem dúvida um dos vultos que mais suscita polêmicas : seja em universidades ou em praças públicas, sempre lembrado por algum popular. Alguns atribuem esse fato ao fim trágico de sua vida. Contudo, Jânio Quadros, considerado um outro expoente populista no Brasil, também é alvo de calorosas discussões, devido ao episódio de sua inusitada renúncia. Para ampliarmos nosso horizonte, observemos fato semelhante na Argentina, onde Perón e Evita fulguram na memória de muitas pessoas. Deixemos as curiosidades para deleite da mídia, que especializou-se em vender a imagem e a privacidade de homens públicos, voltemos o raciocínio para a seguinte questão: qual é o significado histórico do Populismo ?
Antes que possamos iniciar esta breve exposição sobre o Populismo, faremos um lembrete muito importante. Apesar de encontrarmos trabalhos em que o conceito Populismo é aplicado a outros eventos históricos, sugerindo que houve o populismo russo e até mesmo o norte-americano, reservamo-nos ao direito de aplicar este conceito aos eventos históricos específicos da América Latina, ocorridos num período delimitado, compreendido entre os anos de 1930 a 1960. Mesmo assim, devem ser observadas as variações que se apresentam, pois os países latino americanos não formam um todo homogêneo, apesar de terem fatores em comum. Concordamos, portanto, com Maria Lígia Prado, que brilhantemente afirma : “ (...) a produção e validade dos conceitos não podem prescindir das configurações históricas determinadas (...) os conceitos teóricos são historicamente determinados.” ( PRADO, , p.11).
Para tentarmos responder à questão anteriormente mencionada, partiremos da definição de Populismo.. A mais conhecida é aquela segundo a qual o Populismo é um sistema político surgido no contexto da crise que abalou as estruturas da economia dependente e desconfigurou a organização política nela baseada, quebrando a hegemonia das oligarquias em fins da década de 20. É marcante nesse contexto o crack da bolsa de Nova Iorque, ocorrido em 1929, e sua repercussão nos países da América Latina, sobretudo na economia cafeeira do Brasil. De maneira geral, existe um consenso em torno disso, diferindo em alguns trabalhos a ênfase no que poderíamos chamar de “atributos” do Populismo. Assim, certos autores destacam o caráter policlassista dos governos populistas, outros atêm-se mais exaustivamente sobre a possível existência de uma classe hegemônica no sistema populista, se realmente resultou do “vazio político” a que se referem os clássicos sobre o assunto. Abordaremos cada uma delas de acordo com as possibilidades deste trabalho. Vejamos.
Como foi dito, o crack da bolsa de Nova Iorque afetou profundamente a estrutura econômica baseada na agroexportação , sendo que, no Brasil causou grande estrago, pois a economia do país era centrada, desde há muito, nas atividades agrícolas monocultoras. Mas, as conseqüências da crise não se restringiram ao campo econômico, tendo sofrido alterações a organização política do país. Isso porque os maiores afetados foram os que antes beneficiavam-se com o modelo econômico que vigorava até então. As oligarquias não suportaram as dificuldades advindas da crise econômica, enfraqueceram-se política e socialmente. Nesse contexto, uma outra classe que almejava o poder conseguiria atingi-lo sem maiores impedimentos. Contudo, afirmam muitos pesquisadores, não havia naquele momento uma classe amadurecida e forte o suficiente para impor-se às demais.
O termo populismo é utilizado para designar um conjunto de movimentos políticos que se propuseram colocar, no centro de toda ação política, o povo enquanto massa em oposição aos (ou ao lado dos) mecanismos de representação próprios da democracia representativa. Exemplos típicos são o populismo russo do final do século XIX, que visava transferir o poder político às comunas camponesas por meio de uma reforma agrária radical ("partilha negra"), e o populismo americano dos EUA da mesma época, que propunha o incentivo à pequena agricultura pela prática de uma política monetária que favorecesse a expansão da base monetária e o crédito (bimetalismo).
Historicamente, no entanto, o termo populismo acabou por ser mais identificado com certos fenômenos políticos típicos da América Latina, principalmente a partir dos anos 1930, estando associado à industrialização, à urbanização e à dissolução das estruturas políticas oligárquicas, que concentravam firmemente o poder político na mão de aristocracias rurais. Daí a gênese do populismo, no Brasil, estar ligada à Revolução de 1930, que derrubou a República Velha oligárquica, colocando no poder Getulio Vargas, que viria a ser a figura central da política brasileira até seu suicídio em 1954.
O ESTADO POPULISTA NA AMÉRICA LATINA: CARACTERÍSTICAS GERAIS
Quando falamos em Estado Populista na América Latina nos vêm à mente os nomes Getúlio Vargas e Perón. Assim um texto que pretende tratar deste assunto tem que realizar uma breve comparação entre os casos brasileiro e argentino. Para iniciarmos uma comparação entre o Brasil e a Argentina no que concerne a política populista de seus governos, nos remetemos as palavras de Boris fausto. Diz-nos este historiador que em ambos os países o Estado promoveu uma organização sindical, porém na Argentina teria havia um maior aprofundamento desta organização.
No Brasil e na Argentina percebemos a formação e/ou ampliação/restrição de sindicatos. Como dissemos acima, estes ficaram sob a égide governamental e foi sob esta égide que se conquistou um maior número de direitos sociais. Os sindicatos se tornaram mediadores entre os trabalhadores e o governo. “Nessa relação, os interesses de classe ficam subordinados aos interesses ‘nacionais’, propondo dessa forma a identificação dos trabalhadores com a nação. Massa e nação passam a constituir os verdadeiros elementos de realização do Estado” (PENNA: 1999, 197).
Tanto no governo Vargas no Brasil como no de Perón na Argentina percebemos uma grande centralização política, assim como uma busca pela industrialização do país. Assim estes “pregavam” que a centralização política era a melhor forma de se chegar à industrialização, uma vez que seria o Estado o maior investidor neste processo.
A reforma agrária permaneceria fora da plataforma políticas destes governos. Mesmo buscando a industrialização, não se modificaria a estrutura fundiária, onde a terra, ou melhor, a grande propriedade rural, mantinha-se concentrada nas mãos dos latifundiários agro-exportadores. Buscar a modernização não significava romper totalmente com as antigas classes dominantes.
As bases econômicas deste Estado seriam os industriais e os agro-exportadores. Tal fenômeno fica latente no governo Vargas quando, mesmo não vencendo a revolução de 1932, as elites agro-exportadoras paulistas conseguem confirmar a maior parte de seus projetos. Além disso, temos que este Estado tem como principal caráter o projeto nacional-desenvolvimentista. No Brasil, percebemos este projeto tanto em Getúlio Vargas como em João Goulart, e com Juscelino Kubitschek o caráter desenvolvimentista fica mais presente, mesmo este não sendo um nacionalista no sentido do termo utilizado nas discussões políticas da década de 1950.
No campo Social, a principal característica a busca pela conciliação dos interesses da sociedade por parte do líder populista. Desse modo, o Estado encararia as aspirações do povo e não, apenas, os interesses particulares das classes dominantes.
Nesse período temos a identificação da liderança do Estado com as classes populares se baseando neste contesto de viabilização dos diversos interesses.
“As reivindicações operárias só são reconhecidas à medida que as massas se ajustarem aos interesses dos grupos dominantes. Este sistema, no entanto, não descarta o elemento da pressão social, forçada pelas bases, e esta espontaneidade características dos grupos sociais urbanos, oriundos dos extratos mais baixos, desempenha um papel não desprezível na consagração dos líderes populistas” (PENNA: 1999, 196/7).
Por sua vez, tais grupos dominantes mantinham uma relação de compromisso com Estado populista, uma vez que precisava das massas controladas para ampliar sua produção.
Por fim, os lideres populistas buscavam se identificar com as massas para mantê-las sob seu comando. O populismo estabelece uma relação direta entre o líder populista e as massas, exalta o poder público e transforma o líder na própria encarnação do Estado protetor dos pobres e humildes. Vide Getúlio Vargas que ficou conhecido como “pai dos pobres”.
Referencias e Sugestões Bibliográficas
DE CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil. RJ: Civilização Brasileira, 2004.
IANNI, Otávio. A Formação do Estado Populista na América Latina. RJ: Civilização Brasileira, 1975.
PENNA, Lincoln de Abreu. República Brasileira. RJ: Nova Fronteira, 1999.
José Lúcio Nascimento Júnior é licenciado em História pela UNISUAM, onde foi monitor de Etnologia e Etnografia do Brasil, e está especializando-se em História Contemporânea na Universidade Federal Fluminense (UFF).
O termo populismo é utilizado para designar um conjunto de movimentos políticos que se propuseram colocar, no centro de toda ação política, o povo enquanto massa em oposição aos (ou ao lado dos) mecanismos de representação próprios da democracia representativa. Exemplos típicos são o populismo russo do final do século XIX, que visava transferir o poder político às comunas camponesas por meio de uma reforma agrária radical ("partilha negra"), e o populismo americano dos EUA da mesma época, que propunha o incentivo à pequena agricultura pela prática de uma política monetária que favorecesse a expansão da base monetária e o crédito (bimetalismo).
Historicamente, no entanto, o termo populismo acabou por ser mais identificado com certos fenômenos políticos típicos da América Latina, principalmente a partir dos anos 1930, estando associado à industrialização, à urbanização e à dissolução das estruturas políticas oligárquicas, que concentravam firmemente o poder político na mão de aristocracias rurais. Daí a gênese do populismo, no Brasil, estar ligada à Revolução de 1930, que derrubou a República Velha oligárquica, colocando no poder Getulio Vargas, que viria a ser a figura central da política brasileira até seu suicídio em 1954.
A política populista caracteriza-se menos por um conteúdo determinado do que por um "modo" de exercício do poder, através de uma combinação de plebeísmo, autoritarismo e dominação carismática. Sua característica básica é o contato direto entre as massas urbanas e o líder carismático (caudilho), supostamente sem a intermediação de partidos ou corporações. Para ser eleito e governar, o líder populista procura estabelecer um vínculo emocional (e não racional) com o "povo". Isso implica num sistema de políticas ou métodos para o aliciamento das classes sociais de menor poder aquisitivo, além da classe média urbana, como forma de angariar votos e prestígio (legitimidade para si) através da simpatia daquelas. Esse pode ser considerado o mecanismo mais representativo desse modo de governar.
Desde suas origens, o populismo foi encarado com desconfiança pelas correntes políticas mais ideológicas da tanto daEsquerda quanto da Direita. Esta última (como representada, por exemplo, pelo anti-varguismo da UDN brasileira, ou pelo anti-peronismo da União Cívica Radical/UCR Argentina) sempre apontou para os aspectos plebeus, as práticas vulgares e as atitudes "demagógicas" (concessão irresponsável de benefícios sociais e gastos públicos) que a prática populista comportava; a Esquerda, especialmente a comunista, apontava para o caráter reacionário e desmobilizador das benesses populistas, que se contrapunha às lutas organizadas da classe operária e fazia tudo depender da vontade despótica de um caudilho bonapartista. Na América Latina, o populismo foi um poderoso mecanismo de integração das massas populares à vida política, favorecendo o desenvolvimento econômico e social, mas dentro de uma moldura estritamente burguesa em que essa integração foi "subordinada", colocando-se a figura de um líder carismático e mais ou menos autoritário como tampão entre as massas e o aparelho de Estado,
O populismo é uma expressão política que encontra representantes tanto na Esquerda quanto na Direita. Governantes populistas como Vargas, Perón e Lázaro Cárdenas realizaram políticas nacionalistas de substituição de importações, estatização de certas atividades econômicas, imposição de restrições ao capital estrangeiro e concessão de direitos sociais. No entanto, os regimes populistas freqüentemente dedicaram-se à repressão policial dos movimentos de Esquerda e sempre realizaram sua ação reformista dentro de um quadro puramente capitalista.
Essa forma de governo tendeu também a retirar da própria burguesia nativa sua capacidade de ação política autônoma, na medida em que toda ação política é referida à pessoa do líder populista, que se coloca idealmente acima de todas as classes. Ideologicamente, o populismo não é necessariamente de "Esquerda", no sentido de que seu alvo não são apenas as massas destituídas; há políticos populistas de Direita - como os políticos paulistas Adhemar de Barros e Paulo Maluf - que têm como alvo de sua ação política a exploração das carências dos extratos mais baixos (ou menos organizados) da população urbana, com os quais estabelecem uma relação empática baseada na defesa de políticas autoritárias de "moral e bons costumes" e/ou "Lei e Ordem". Alegam alguns que o maior representante do populismo de Direita no Brasil talvez haja sido o presidente Jânio Quadros.
Enquanto ideologia, o populismo não está ligado obrigatoriamente a políticas econômicas de tipo nacionalista: na América Latina dos anos 1990, governantes populistas como o argentino Carlos Saul Menem, por exemplo, combinaram políticas neoliberais de desregulamentação e desnacionalização com uma política social assistencialista herdada do populismo mais tradicional dos anos 1930 - no caso de Menem, do peronismo - naquilo em que tais políticas não entravam em conflito com as práticas neoliberais. O mesmo pode ser dito de outros governantes da época, como Alberto Fujimori.
Exemplo máximo do populismo no Brasil, Getúlio Vargas subiu ao poder através de golpe de Estado nos anos 30 (Era Vargas de 1930 até 1945), elegendo-se democraticamente presidente em 1951 e governando até suicidar-se em 1954. Apelidado de "pai dos pobres", sua popularidade entre as massas é atribuída a sua liderança carismática e a seu empenho na aprovação de reformas trabalhistas que favoreceram o operariado. Entretanto, alguns alegam que suas medidas apenas minaram o poder dos sindicatos e de seus líderes, tornando-os dependentes do Estado.
O termo populismo é utilizado para designar um conjunto de movimentos políticos que se propuseram colocar, no centro de toda ação política, o povo enquanto massa em oposição aos (ou ao lado dos) mecanismos de representação próprios da democracia representativa. Exemplos típicos são o populismo russo do final do século XIX, que visava transferir o poder político às comunas camponesas por meio de uma reforma agrária radical ("partilha negra"), e o populismo americano dos EUA da mesma época, que propunha o incentivo à pequena agricultura pela prática de uma política monetária que favorecesse a expansão da base monetária e o crédito (bimetalismo).
Historicamente, no entanto, o termo populismo acabou por ser mais identificado com certos fenômenos políticos típicos da América Latina, principalmente a partir dos anos 1930, estando associado à industrialização, à urbanização e à dissolução das estruturas políticas oligárquicas, que concentravam firmemente o poder político na mão de aristocracias rurais. Daí a gênese do populismo, no Brasil, estar ligada à Revolução de 1930, que derrubou a República Velha oligárquica, colocando no poder Getulio Vargas, que viria a ser a figura central da política brasileira até seu suicídio em 1954.
Características
Sua característica básica é o contato direto entre as massas urbanas e o líder carismático (caudilho), supostamente sem a intermediação de partidos ou corporações. Para ser eleito e governar, o líder populista procura estabelecer um vínculo emocional (e não racional) com o "povo". Isso implica num sistema de políticas ou métodos para o aliciamento das classes sociais de menor poder aquisitivo, além da classe média urbana, como forma de angariar votos e prestígio (legitimidade para si) através da simpatia daquelas. Esse pode ser considerado o mecanismo mais representativo desse modo de governar.
Ideologias
O populismo é uma expressão política que encontra representantes tanto na Esquerda quanto na Direita. Governantes populistas como Vargas, Perón e Lázaro Cárdenas realizaram políticas nacionalistas de substituição de importações, estatização de certas atividades econômicas, imposição de restrições ao capital estrangeiro e concessão de direitos sociais. No entanto, os regimes populistas freqüentemente dedicaram-se à repressão policial dos movimentos de Esquerda e sempre realizaram sua ação reformista dentro de um quadro puramente capitalista.
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É praticamente impossível analisar a conjuntura política brasileira sem reportamo-nos em algum momento, ainda que de relance, aos anos em que o populismo vigorou no país. Getúlio Vargas é sem dúvida um dos vultos que mais suscita polêmicas : seja em universidades ou em praças públicas, sempre lembrado por algum popular. Alguns atribuem esse fato ao fim trágico de sua vida. Contudo, Jânio Quadros, considerado um outro expoente populista no Brasil, também é alvo de calorosas discussões, devido ao episódio de sua inusitada renúncia. Para ampliarmos nosso horizonte, observemos fato semelhante na Argentina, onde Perón e Evita fulguram na memória de muitas pessoas. Deixemos as curiosidades para deleite da mídia, que especializou-se em vender a imagem e a privacidade de homens públicos, voltemos o raciocínio para a seguinte questão: qual é o significado histórico do Populismo ?
Antes que possamos iniciar esta breve exposição sobre o Populismo, faremos um lembrete muito importante. Apesar de encontrarmos trabalhos em que o conceito Populismo é aplicado a outros eventos históricos, sugerindo que houve o populismo russo e até mesmo o norte-americano, reservamo-nos ao direito de aplicar este conceito aos eventos históricos específicos da América Latina, ocorridos num período delimitado, compreendido entre os anos de 1930 a 1960. Mesmo assim, devem ser observadas as variações que se apresentam, pois os países latino americanos não formam um todo homogêneo, apesar de terem fatores em comum. Concordamos, portanto, com Maria Lígia Prado, que brilhantemente afirma : “ (...) a produção e validade dos conceitos não podem prescindir das configurações históricas determinadas (...) os conceitos teóricos são historicamente determinados.” ( PRADO, , p.11).
Para tentarmos responder à questão anteriormente mencionada, partiremos da definição de Populismo.. A mais conhecida é aquela segundo a qual o Populismo é um sistema político surgido no contexto da crise que abalou as estruturas da economia dependente e desconfigurou a organização política nela baseada, quebrando a hegemonia das oligarquias em fins da década de 20. É marcante nesse contexto o crack da bolsa de Nova Iorque, ocorrido em 1929, e sua repercussão nos países da América Latina, sobretudo na economia cafeeira do Brasil. De maneira geral, existe um consenso em torno disso, diferindo em alguns trabalhos a ênfase no que poderíamos chamar de “atributos” do Populismo. Assim, certos autores destacam o caráter policlassista dos governos populistas, outros atêm-se mais exaustivamente sobre a possível existência de uma classe hegemônica no sistema populista, se realmente resultou do “vazio político” a que se referem os clássicos sobre o assunto. Abordaremos cada uma delas de acordo com as possibilidades deste trabalho. Vejamos.
Como foi dito, o crack da bolsa de Nova Iorque afetou profundamente a estrutura econômica baseada na agroexportação , sendo que, no Brasil causou grande estrago, pois a economia do país era centrada, desde há muito, nas atividades agrícolas monocultoras. Mas, as conseqüências da crise não se restringiram ao campo econômico, tendo sofrido alterações a organização política do país. Isso porque os maiores afetados foram os que antes beneficiavam-se com o modelo econômico que vigorava até então. As oligarquias não suportaram as dificuldades advindas da crise econômica, enfraqueceram-se política e socialmente. Nesse contexto, uma outra classe que almejava o poder conseguiria atingi-lo sem maiores impedimentos. Contudo, afirmam muitos pesquisadores, não havia naquele momento uma classe amadurecida e forte o suficiente para impor-se às demais.
O termo populismo é utilizado para designar um conjunto de movimentos políticos que se propuseram colocar, no centro de toda ação política, o povo enquanto massa em oposição aos (ou ao lado dos) mecanismos de representação próprios da democracia representativa. Exemplos típicos são o populismo russo do final do século XIX, que visava transferir o poder político às comunas camponesas por meio de uma reforma agrária radical ("partilha negra"), e o populismo americano dos EUA da mesma época, que propunha o incentivo à pequena agricultura pela prática de uma política monetária que favorecesse a expansão da base monetária e o crédito (bimetalismo).
Historicamente, no entanto, o termo populismo acabou por ser mais identificado com certos fenômenos políticos típicos da América Latina, principalmente a partir dos anos 1930, estando associado à industrialização, à urbanização e à dissolução das estruturas políticas oligárquicas, que concentravam firmemente o poder político na mão de aristocracias rurais. Daí a gênese do populismo, no Brasil, estar ligada à Revolução de 1930, que derrubou a República Velha oligárquica, colocando no poder Getulio Vargas, que viria a ser a figura central da política brasileira até seu suicídio em 1954.
O ESTADO POPULISTA NA AMÉRICA LATINA: CARACTERÍSTICAS GERAIS
Quando falamos em Estado Populista na América Latina nos vêm à mente os nomes Getúlio Vargas e Perón. Assim um texto que pretende tratar deste assunto tem que realizar uma breve comparação entre os casos brasileiro e argentino. Para iniciarmos uma comparação entre o Brasil e a Argentina no que concerne a política populista de seus governos, nos remetemos as palavras de Boris fausto. Diz-nos este historiador que em ambos os países o Estado promoveu uma organização sindical, porém na Argentina teria havia um maior aprofundamento desta organização.
No Brasil e na Argentina percebemos a formação e/ou ampliação/restrição de sindicatos. Como dissemos acima, estes ficaram sob a égide governamental e foi sob esta égide que se conquistou um maior número de direitos sociais. Os sindicatos se tornaram mediadores entre os trabalhadores e o governo. “Nessa relação, os interesses de classe ficam subordinados aos interesses ‘nacionais’, propondo dessa forma a identificação dos trabalhadores com a nação. Massa e nação passam a constituir os verdadeiros elementos de realização do Estado” (PENNA: 1999, 197).
Tanto no governo Vargas no Brasil como no de Perón na Argentina percebemos uma grande centralização política, assim como uma busca pela industrialização do país. Assim estes “pregavam” que a centralização política era a melhor forma de se chegar à industrialização, uma vez que seria o Estado o maior investidor neste processo.
A reforma agrária permaneceria fora da plataforma políticas destes governos. Mesmo buscando a industrialização, não se modificaria a estrutura fundiária, onde a terra, ou melhor, a grande propriedade rural, mantinha-se concentrada nas mãos dos latifundiários agro-exportadores. Buscar a modernização não significava romper totalmente com as antigas classes dominantes.
As bases econômicas deste Estado seriam os industriais e os agro-exportadores. Tal fenômeno fica latente no governo Vargas quando, mesmo não vencendo a revolução de 1932, as elites agro-exportadoras paulistas conseguem confirmar a maior parte de seus projetos. Além disso, temos que este Estado tem como principal caráter o projeto nacional-desenvolvimentista. No Brasil, percebemos este projeto tanto em Getúlio Vargas como em João Goulart, e com Juscelino Kubitschek o caráter desenvolvimentista fica mais presente, mesmo este não sendo um nacionalista no sentido do termo utilizado nas discussões políticas da década de 1950.
No campo Social, a principal característica a busca pela conciliação dos interesses da sociedade por parte do líder populista. Desse modo, o Estado encararia as aspirações do povo e não, apenas, os interesses particulares das classes dominantes.
Nesse período temos a identificação da liderança do Estado com as classes populares se baseando neste contesto de viabilização dos diversos interesses.
“As reivindicações operárias só são reconhecidas à medida que as massas se ajustarem aos interesses dos grupos dominantes. Este sistema, no entanto, não descarta o elemento da pressão social, forçada pelas bases, e esta espontaneidade características dos grupos sociais urbanos, oriundos dos extratos mais baixos, desempenha um papel não desprezível na consagração dos líderes populistas” (PENNA: 1999, 196/7).
Por sua vez, tais grupos dominantes mantinham uma relação de compromisso com Estado populista, uma vez que precisava das massas controladas para ampliar sua produção.
Por fim, os lideres populistas buscavam se identificar com as massas para mantê-las sob seu comando. O populismo estabelece uma relação direta entre o líder populista e as massas, exalta o poder público e transforma o líder na própria encarnação do Estado protetor dos pobres e humildes. Vide Getúlio Vargas que ficou conhecido como “pai dos pobres”.
Referencias e Sugestões Bibliográficas
DE CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil. RJ: Civilização Brasileira, 2004.
IANNI, Otávio. A Formação do Estado Populista na América Latina. RJ: Civilização Brasileira, 1975.
PENNA, Lincoln de Abreu. República Brasileira. RJ: Nova Fronteira, 1999.
José Lúcio Nascimento Júnior é licenciado em História pela UNISUAM, onde foi monitor de Etnologia e Etnografia do Brasil, e está especializando-se em História Contemporânea na Universidade Federal Fluminense (UFF).
O termo populismo é utilizado para designar um conjunto de movimentos políticos que se propuseram colocar, no centro de toda ação política, o povo enquanto massa em oposição aos (ou ao lado dos) mecanismos de representação próprios da democracia representativa. Exemplos típicos são o populismo russo do final do século XIX, que visava transferir o poder político às comunas camponesas por meio de uma reforma agrária radical ("partilha negra"), e o populismo americano dos EUA da mesma época, que propunha o incentivo à pequena agricultura pela prática de uma política monetária que favorecesse a expansão da base monetária e o crédito (bimetalismo).
Historicamente, no entanto, o termo populismo acabou por ser mais identificado com certos fenômenos políticos típicos da América Latina, principalmente a partir dos anos 1930, estando associado à industrialização, à urbanização e à dissolução das estruturas políticas oligárquicas, que concentravam firmemente o poder político na mão de aristocracias rurais. Daí a gênese do populismo, no Brasil, estar ligada à Revolução de 1930, que derrubou a República Velha oligárquica, colocando no poder Getulio Vargas, que viria a ser a figura central da política brasileira até seu suicídio em 1954.
A política populista caracteriza-se menos por um conteúdo determinado do que por um "modo" de exercício do poder, através de uma combinação de plebeísmo, autoritarismo e dominação carismática. Sua característica básica é o contato direto entre as massas urbanas e o líder carismático (caudilho), supostamente sem a intermediação de partidos ou corporações. Para ser eleito e governar, o líder populista procura estabelecer um vínculo emocional (e não racional) com o "povo". Isso implica num sistema de políticas ou métodos para o aliciamento das classes sociais de menor poder aquisitivo, além da classe média urbana, como forma de angariar votos e prestígio (legitimidade para si) através da simpatia daquelas. Esse pode ser considerado o mecanismo mais representativo desse modo de governar.
Desde suas origens, o populismo foi encarado com desconfiança pelas correntes políticas mais ideológicas da tanto daEsquerda quanto da Direita. Esta última (como representada, por exemplo, pelo anti-varguismo da UDN brasileira, ou pelo anti-peronismo da União Cívica Radical/UCR Argentina) sempre apontou para os aspectos plebeus, as práticas vulgares e as atitudes "demagógicas" (concessão irresponsável de benefícios sociais e gastos públicos) que a prática populista comportava; a Esquerda, especialmente a comunista, apontava para o caráter reacionário e desmobilizador das benesses populistas, que se contrapunha às lutas organizadas da classe operária e fazia tudo depender da vontade despótica de um caudilho bonapartista. Na América Latina, o populismo foi um poderoso mecanismo de integração das massas populares à vida política, favorecendo o desenvolvimento econômico e social, mas dentro de uma moldura estritamente burguesa em que essa integração foi "subordinada", colocando-se a figura de um líder carismático e mais ou menos autoritário como tampão entre as massas e o aparelho de Estado,
O populismo é uma expressão política que encontra representantes tanto na Esquerda quanto na Direita. Governantes populistas como Vargas, Perón e Lázaro Cárdenas realizaram políticas nacionalistas de substituição de importações, estatização de certas atividades econômicas, imposição de restrições ao capital estrangeiro e concessão de direitos sociais. No entanto, os regimes populistas freqüentemente dedicaram-se à repressão policial dos movimentos de Esquerda e sempre realizaram sua ação reformista dentro de um quadro puramente capitalista.
Essa forma de governo tendeu também a retirar da própria burguesia nativa sua capacidade de ação política autônoma, na medida em que toda ação política é referida à pessoa do líder populista, que se coloca idealmente acima de todas as classes. Ideologicamente, o populismo não é necessariamente de "Esquerda", no sentido de que seu alvo não são apenas as massas destituídas; há políticos populistas de Direita - como os políticos paulistas Adhemar de Barros e Paulo Maluf - que têm como alvo de sua ação política a exploração das carências dos extratos mais baixos (ou menos organizados) da população urbana, com os quais estabelecem uma relação empática baseada na defesa de políticas autoritárias de "moral e bons costumes" e/ou "Lei e Ordem". Alegam alguns que o maior representante do populismo de Direita no Brasil talvez haja sido o presidente Jânio Quadros.
Enquanto ideologia, o populismo não está ligado obrigatoriamente a políticas econômicas de tipo nacionalista: na América Latina dos anos 1990, governantes populistas como o argentino Carlos Saul Menem, por exemplo, combinaram políticas neoliberais de desregulamentação e desnacionalização com uma política social assistencialista herdada do populismo mais tradicional dos anos 1930 - no caso de Menem, do peronismo - naquilo em que tais políticas não entravam em conflito com as práticas neoliberais. O mesmo pode ser dito de outros governantes da época, como Alberto Fujimori.
Exemplo máximo do populismo no Brasil, Getúlio Vargas subiu ao poder através de golpe de Estado nos anos 30 (Era Vargas de 1930 até 1945), elegendo-se democraticamente presidente em 1951 e governando até suicidar-se em 1954. Apelidado de "pai dos pobres", sua popularidade entre as massas é atribuída a sua liderança carismática e a seu empenho na aprovação de reformas trabalhistas que favoreceram o operariado. Entretanto, alguns alegam que suas medidas apenas minaram o poder dos sindicatos e de seus líderes, tornando-os dependentes do Estado.
O termo populismo é utilizado para designar um conjunto de movimentos políticos que se propuseram colocar, no centro de toda ação política, o povo enquanto massa em oposição aos (ou ao lado dos) mecanismos de representação próprios da democracia representativa. Exemplos típicos são o populismo russo do final do século XIX, que visava transferir o poder político às comunas camponesas por meio de uma reforma agrária radical ("partilha negra"), e o populismo americano dos EUA da mesma época, que propunha o incentivo à pequena agricultura pela prática de uma política monetária que favorecesse a expansão da base monetária e o crédito (bimetalismo).
Historicamente, no entanto, o termo populismo acabou por ser mais identificado com certos fenômenos políticos típicos da América Latina, principalmente a partir dos anos 1930, estando associado à industrialização, à urbanização e à dissolução das estruturas políticas oligárquicas, que concentravam firmemente o poder político na mão de aristocracias rurais. Daí a gênese do populismo, no Brasil, estar ligada à Revolução de 1930, que derrubou a República Velha oligárquica, colocando no poder Getulio Vargas, que viria a ser a figura central da política brasileira até seu suicídio em 1954.
Características
Sua característica básica é o contato direto entre as massas urbanas e o líder carismático (caudilho), supostamente sem a intermediação de partidos ou corporações. Para ser eleito e governar, o líder populista procura estabelecer um vínculo emocional (e não racional) com o "povo". Isso implica num sistema de políticas ou métodos para o aliciamento das classes sociais de menor poder aquisitivo, além da classe média urbana, como forma de angariar votos e prestígio (legitimidade para si) através da simpatia daquelas. Esse pode ser considerado o mecanismo mais representativo desse modo de governar.
Ideologias
O populismo é uma expressão política que encontra representantes tanto na Esquerda quanto na Direita. Governantes populistas como Vargas, Perón e Lázaro Cárdenas realizaram políticas nacionalistas de substituição de importações, estatização de certas atividades econômicas, imposição de restrições ao capital estrangeiro e concessão de direitos sociais. No entanto, os regimes populistas freqüentemente dedicaram-se à repressão policial dos movimentos de Esquerda e sempre realizaram sua ação reformista dentro de um quadro puramente capitalista.