Filho de Britador e Teresinha, o paquiderme bonachão recebeu esse nome porque era feio e desengonçado quando filhote. Cacareco, na verdade, era fêmea e tinha dois chifres - seu problema de identidade sexual nunca foi plenamente resolvido.
A princípio, a passagem do rinoceronte pela capital paulista seria breve. Mas ele foi ficando. O presidente do zoológico na época, Emílio Varolli, alegava que ele "estava se dando muito bem em São Paulo". Carismático, logo se tornou querido pela população.
Em 4 de outubro de 1959, 540 candidatos disputavam as 45 vagas para vereador em São Paulo. Alguns eram prá lá de esquisitos. Um pesava 230 kg e ostentava o slogan: "O candidato que vale quanto pesa".
Outro passeava por aí com uma onça: "Eleitor inteligente vota no amigo da onça", dizia. O partido PRT instalou uma roleta no viaduto do Chá com os nomes de seus 45 candidatos e o cartaz: "Basta girar a roda da sorte; todos merecem seu voto".
Por essas e outras, a eleição se transformou em algo caricato. Foi então que Itaboraí Martins, na época jornalista do Estado de S. Paulo e da Rádio Eldorado, desiludido com a baixa qualidade dos nomes à vereança, comentou entre os amigos jornalistas que votaria em Cacareco.
A brincadeira foi levada a sério. Itaboraí e seus colegas saíram pichando a cidade: "Cacareco para vereador". E logo o paquiderme caiu nas graças da mídia e saltou aos olhos dos eleitorados.
Entretanto, três dias antes da eleição, armaram contra a mais inusitada revelação do cenário político. Cacareco seria "exilado": embarcaram-no num caminhão que o levaria de volta ao Rio de Janeiro. Na partida, um rio de gente deu adeus àquele que seria o maior nome do pleito municipal.
Nas urnas, ele recebeu um quinhão considerável dos votos. Não se sabe o número exato - por terem sido anulados, os votos de protesto eram deixados de fora das estatísticas oficiais.
Mas, de acordo com testemunhos de quem acompanhou as apurações e com base nos cálculos feitos por jornalistas, o animal recebeu o apoio de cerca de 90 mil cidadãos votantes.
Com tudo isso, seria possível um partido eleger quase uma dezena de vereadores à Câmara. O paquiderme recebeu votos até em outros municípios paulistas.
O episódio ganhou destaque na revista Time, que transcreveu a opinião de um eleitor: "É melhor eleger um rinoceronte do que um asno".
Um rinoceronte preto africano - como era classificado Cacareco - vive em média 45 anos, se mantido em seu hábitat. Porém, o "quase-vereador" morreu alguns anos depois de ter alcançado o estrelato.
Nem sequer completou dez anos de vida. Talvez, desiludiu-se com a carreira pública, que prometia. E Cacareco, é bom registrar, nunca prometeu nada.
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Filho de Britador e Teresinha, o paquiderme bonachão recebeu esse nome porque era feio e desengonçado quando filhote. Cacareco, na verdade, era fêmea e tinha dois chifres - seu problema de identidade sexual nunca foi plenamente resolvido.
A princípio, a passagem do rinoceronte pela capital paulista seria breve. Mas ele foi ficando. O presidente do zoológico na época, Emílio Varolli, alegava que ele "estava se dando muito bem em São Paulo". Carismático, logo se tornou querido pela população.
Em 4 de outubro de 1959, 540 candidatos disputavam as 45 vagas para vereador em São Paulo. Alguns eram prá lá de esquisitos. Um pesava 230 kg e ostentava o slogan: "O candidato que vale quanto pesa".
Outro passeava por aí com uma onça: "Eleitor inteligente vota no amigo da onça", dizia. O partido PRT instalou uma roleta no viaduto do Chá com os nomes de seus 45 candidatos e o cartaz: "Basta girar a roda da sorte; todos merecem seu voto".
Por essas e outras, a eleição se transformou em algo caricato. Foi então que Itaboraí Martins, na época jornalista do Estado de S. Paulo e da Rádio Eldorado, desiludido com a baixa qualidade dos nomes à vereança, comentou entre os amigos jornalistas que votaria em Cacareco.
A brincadeira foi levada a sério. Itaboraí e seus colegas saíram pichando a cidade: "Cacareco para vereador". E logo o paquiderme caiu nas graças da mídia e saltou aos olhos dos eleitorados.
Entretanto, três dias antes da eleição, armaram contra a mais inusitada revelação do cenário político. Cacareco seria "exilado": embarcaram-no num caminhão que o levaria de volta ao Rio de Janeiro. Na partida, um rio de gente deu adeus àquele que seria o maior nome do pleito municipal.
Nas urnas, ele recebeu um quinhão considerável dos votos. Não se sabe o número exato - por terem sido anulados, os votos de protesto eram deixados de fora das estatísticas oficiais.
Mas, de acordo com testemunhos de quem acompanhou as apurações e com base nos cálculos feitos por jornalistas, o animal recebeu o apoio de cerca de 90 mil cidadãos votantes.
Com tudo isso, seria possível um partido eleger quase uma dezena de vereadores à Câmara. O paquiderme recebeu votos até em outros municípios paulistas.
O episódio ganhou destaque na revista Time, que transcreveu a opinião de um eleitor: "É melhor eleger um rinoceronte do que um asno".
Um rinoceronte preto africano - como era classificado Cacareco - vive em média 45 anos, se mantido em seu hábitat. Porém, o "quase-vereador" morreu alguns anos depois de ter alcançado o estrelato.
Nem sequer completou dez anos de vida. Talvez, desiludiu-se com a carreira pública, que prometia. E Cacareco, é bom registrar, nunca prometeu nada.
A mesma situação reinante hoje no paÃs. PolÃticos imundos, despreparados, corruptos. A diferença é que naquela época a comunicação era muito precária. E para se fazer ouvir o povo votou no tal Cacareco para dizer "chega". Avaliando o mesmo processo hoje em dia, equivaleria a votar nulo. Ou seja, é totalmente irrelevante votar nulo. Você sabe o que aconteceu desde a votação maciça no Cacareco. Se você acha que foi nada, se enganou redondamente. As coisas pioraram muito, citando apenas dois casos: Lula e Maluf.
Citando meu bordão favorito: Para que este paÃs tenha jeito, vote direito.
POIS é.
Agora aconteceu a mesma coisa em 2002.
Elegeram uma anta, no lugar de um rinoceronte.
.....
Pena que ele não pode assumir o cargo,na vereança,por ser analfabeto!Naquele tempo,analfabetos não podiam nem votar,quanto mais se eleger!
Como pode-se ver, não é de hoje que a polÃtica brasileira deixa o povo p u t o da vida e indgnado.
Viva o Cacareco.