O sotaque de Brasília já denuncia a formação de uma capital com mais da metade da população nascida em outro lugar. “Paulista escuta e acha que é carioca. Carioca pensa que é baiano. E baiano não reconhece. A gente brinca que tem sotaque do Jornal Nacional”, afirma a consultora Sara Levy, 22, nascida em São José dos Campos (SP) e que vive em Brasília desde os nove anos.
Da leva inicial do funcionalismo que saiu da Guanabara para o Planalto Central ficou “r” puxado, o costume de colocar catchup na pizza, o gosto pela atividade física e a paixão pelo futebol carioca – o Candangão, torneio dos times do Distrito Federal, não consegue concorrer contra Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo.
“Sou carioca da gema e do ovo dourado. Só mudei para aqui para acompanhar minha mulher. No começo, não gostei, mas agora já me acostumei. Aqui o pessoal é mais formal, engravatado. No Rio, a pessoa já está vestida só com um short e uma toalha no pescoço”, sintetiza o motorista Jorge Braga, 59, morador do bairro Cruzeiro, que é um reduto carioca, e seguidor da escola de samba local Aruc.
Por seu lado, os pioneiros nordestinos resistiram depois da construção e deixaram sua marca no Distrito Federal, principalmente nas chamadas cidades-satélites. A feira do Guará é similar às do Nordeste. O militar retirado José Nelson de Souza, 56, veio em 1974 da cearense Crateús para servir na vigilância do então presidente Ernesto Geisel. “O homem era carrancudo. Não dava descanso para a gente”, conta. Depois foi segurança particular e chegou a servir até na Casa da Dinda, residência particular do também presidente Fernando Collor.
Uma gozação reiterada é que, fora a arquitetura de Oscar Niemeyer, o que domina o entorno do lago Paranoá é o estilo greco-goiano. A maior influência do Estado que rodeia o DF, porém, é a política local, personalizada por Joaquim Roriz, mandatário distrital por quatro mandatos.
“Eu vim da roça diretamente para aqui, foi um choque”, descreve assim Miguel Ribeiro a troca de Ipameri (GO) pela capital. Hoje, ele une as duas localidades separadas por 300 quilômetros vendendo em Brasília o mel produzido pela família no campo.
Outra leva posterior foi a dos gaúchos. “Tomo chimarrão só no fim de semana. Mas tem gente aqui que bebe todo o dia na repartição. Eles ainda fazem até roda para tomar”, conta Lauro Aurélio Oliveira, 64. Ele nasceu em Santana do Livramento (na fronteira com o Uruguai), mora em Luziânia (GO) e gasta todo dia 40 minutos até o ministério das Comunicações, onde trabalha há dez anos.
Hoje em dia, o brasiliense é uma mistura de procedências. “Toda vez que passo férias com a família em Minas, volto puxando o sotaque deles”, afirma Marcelo Bernardes, 26, nascido em Brasília com mãe mineira, pai paulista e casado com outra brasiliense, Mailany, filha de gaúcho com nordestina.
Já Jefferson Gonçalves tem pai goiano e mãe baiana, ambos vindos pequenos com os pais que vieram construir a cidade. “Meu avô paterno construiu os meio-fios. Depois ganhou a vida como fotógrafo lambe-lambe, indo de casa em casa oferecendo retratos.”
Dizem que os recém-chegados sofrem de “brasilite”, que seria o choque com o ambiente da capital. Mas o santista Essio Lanfredi parece uma exceção a isso. “A primeira vez que vim aqui fiquei apaixonado. É uma cidade cosmopolita e muito organizada, tem de tudo. Muita gente me falou que era uma cidade fechada, obtusa, mas eu vi o contrário”, afirma o engenheiro de planejamento que morou sete anos na seca de Juazeiro (Bahia) e depois quatro na umidade de Manaus (AM).
“Muita gente reclama da época de seca aqui. Claro, tem muita poeira, mas nem se compara com o clima que vive no sertão baiano. É só passar manteiga de cacau na boca e pronto”, opina Lanfredi.
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Brasília não tem sotaque.
O sotaque de Brasília já denuncia a formação de uma capital com mais da metade da população nascida em outro lugar. “Paulista escuta e acha que é carioca. Carioca pensa que é baiano. E baiano não reconhece. A gente brinca que tem sotaque do Jornal Nacional”, afirma a consultora Sara Levy, 22, nascida em São José dos Campos (SP) e que vive em Brasília desde os nove anos.
Da leva inicial do funcionalismo que saiu da Guanabara para o Planalto Central ficou “r” puxado, o costume de colocar catchup na pizza, o gosto pela atividade física e a paixão pelo futebol carioca – o Candangão, torneio dos times do Distrito Federal, não consegue concorrer contra Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo.
“Sou carioca da gema e do ovo dourado. Só mudei para aqui para acompanhar minha mulher. No começo, não gostei, mas agora já me acostumei. Aqui o pessoal é mais formal, engravatado. No Rio, a pessoa já está vestida só com um short e uma toalha no pescoço”, sintetiza o motorista Jorge Braga, 59, morador do bairro Cruzeiro, que é um reduto carioca, e seguidor da escola de samba local Aruc.
Por seu lado, os pioneiros nordestinos resistiram depois da construção e deixaram sua marca no Distrito Federal, principalmente nas chamadas cidades-satélites. A feira do Guará é similar às do Nordeste. O militar retirado José Nelson de Souza, 56, veio em 1974 da cearense Crateús para servir na vigilância do então presidente Ernesto Geisel. “O homem era carrancudo. Não dava descanso para a gente”, conta. Depois foi segurança particular e chegou a servir até na Casa da Dinda, residência particular do também presidente Fernando Collor.
Uma gozação reiterada é que, fora a arquitetura de Oscar Niemeyer, o que domina o entorno do lago Paranoá é o estilo greco-goiano. A maior influência do Estado que rodeia o DF, porém, é a política local, personalizada por Joaquim Roriz, mandatário distrital por quatro mandatos.
“Eu vim da roça diretamente para aqui, foi um choque”, descreve assim Miguel Ribeiro a troca de Ipameri (GO) pela capital. Hoje, ele une as duas localidades separadas por 300 quilômetros vendendo em Brasília o mel produzido pela família no campo.
Outra leva posterior foi a dos gaúchos. “Tomo chimarrão só no fim de semana. Mas tem gente aqui que bebe todo o dia na repartição. Eles ainda fazem até roda para tomar”, conta Lauro Aurélio Oliveira, 64. Ele nasceu em Santana do Livramento (na fronteira com o Uruguai), mora em Luziânia (GO) e gasta todo dia 40 minutos até o ministério das Comunicações, onde trabalha há dez anos.
Hoje em dia, o brasiliense é uma mistura de procedências. “Toda vez que passo férias com a família em Minas, volto puxando o sotaque deles”, afirma Marcelo Bernardes, 26, nascido em Brasília com mãe mineira, pai paulista e casado com outra brasiliense, Mailany, filha de gaúcho com nordestina.
Já Jefferson Gonçalves tem pai goiano e mãe baiana, ambos vindos pequenos com os pais que vieram construir a cidade. “Meu avô paterno construiu os meio-fios. Depois ganhou a vida como fotógrafo lambe-lambe, indo de casa em casa oferecendo retratos.”
Dizem que os recém-chegados sofrem de “brasilite”, que seria o choque com o ambiente da capital. Mas o santista Essio Lanfredi parece uma exceção a isso. “A primeira vez que vim aqui fiquei apaixonado. É uma cidade cosmopolita e muito organizada, tem de tudo. Muita gente me falou que era uma cidade fechada, obtusa, mas eu vi o contrário”, afirma o engenheiro de planejamento que morou sete anos na seca de Juazeiro (Bahia) e depois quatro na umidade de Manaus (AM).
“Muita gente reclama da época de seca aqui. Claro, tem muita poeira, mas nem se compara com o clima que vive no sertão baiano. É só passar manteiga de cacau na boca e pronto”, opina Lanfredi.
Nao tem sotaque.
Usa muitas girias como vei,tipo assim...
Acho que não tem muito sotaque, mas tem gírias, por exemplo: véi