Antônio amava Karina. Karina amava Antônio. Mas o amor dos dois não era desses amores que passam como se nunca tivessem sido, não. Era amor de verdade, daqueles que não têm medo do tempo. Aliás, por que teria medo, se Antônio era amigo do tempo? Tanto era que, para agradar Karina, entrou em acordo com o tempo e foi até o futuro, só para trazer o mundo até sua amada.
Essa história está parecendo confusa? Não se preocupe, lendo "A Máquina", de Adriana Falcão, você vai entender. Entender que o amor de Antônio e Karina supera toda lógica e é pura poesia.
A Máquina também é literatura de cordel e é romance. Uma história que, de tão original, acabou merecendo uma adaptação para o teatro e, depois, foi levada aos cinemas. Com Mariana Ximenes e Gustavo Falcão como protagonistas, o filme conta ainda com a participação de Paulo Autran, mas nem a ótima atuação desse ícone do teatro é suficiente para justificar que não se leia o livro apenas por se ter visto o filme.
Sabe quando assistimos a um espetáculo de malabarismo e ficamos admirados ao ver objetos flutuarem sobre as mãos do artista, apenas duas mãos e tantos objetos, que parecem estar fora de seu lugar, como que ignorando a gravidade? O artista, pouco se importando com isso, continua seu espetáculo. Pois Adriana Falcão é uma malabarista das palavras e encanta pela capacidade de brincar com termos que parecem estar fora de seu lugar, como que ignorando a gramática, mas mantendo o espetáculo. Uma amostra? Sobre os bailes às sextas-feiras em Nordestina, cidade de Karina e Antônio, ficamos sabendo pelo narrador que "houve um tempo em que o salão ficava lotado. No tempo de Antônio, não. Como a cada semana ia-se embora um, os pares foram se desfazendo, deixando cada vez mais ímpares desemparelhados. Depois foi a vez dos ímpares irem ficando também cada vez menos, coitados desses, é impressionante como os números ímpares são muito mais tristes do que os pares".
Adriana Falcão escreve roteiros para séries como "A Grande Família" e também foi roteirista de "Comédias da Vida Privada", esta última baseada na obra de Luis Fernando Verissimo, que afirma: "A prosa de Adriana tem sortilégio. A gente se encanta com ela no sentido de se deliciar mas também no sentido de cobra hipnotizada". Como diria Antônio, "A Máquina" é livro bom "que só a gota"...
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A Máquina, Adriana Falcão
15/11/2006
Antônio amava Karina. Karina amava Antônio. Mas o amor dos dois não era desses amores que passam como se nunca tivessem sido, não. Era amor de verdade, daqueles que não têm medo do tempo. Aliás, por que teria medo, se Antônio era amigo do tempo? Tanto era que, para agradar Karina, entrou em acordo com o tempo e foi até o futuro, só para trazer o mundo até sua amada.
Essa história está parecendo confusa? Não se preocupe, lendo "A Máquina", de Adriana Falcão, você vai entender. Entender que o amor de Antônio e Karina supera toda lógica e é pura poesia.
A Máquina também é literatura de cordel e é romance. Uma história que, de tão original, acabou merecendo uma adaptação para o teatro e, depois, foi levada aos cinemas. Com Mariana Ximenes e Gustavo Falcão como protagonistas, o filme conta ainda com a participação de Paulo Autran, mas nem a ótima atuação desse ícone do teatro é suficiente para justificar que não se leia o livro apenas por se ter visto o filme.
Sabe quando assistimos a um espetáculo de malabarismo e ficamos admirados ao ver objetos flutuarem sobre as mãos do artista, apenas duas mãos e tantos objetos, que parecem estar fora de seu lugar, como que ignorando a gravidade? O artista, pouco se importando com isso, continua seu espetáculo. Pois Adriana Falcão é uma malabarista das palavras e encanta pela capacidade de brincar com termos que parecem estar fora de seu lugar, como que ignorando a gramática, mas mantendo o espetáculo. Uma amostra? Sobre os bailes às sextas-feiras em Nordestina, cidade de Karina e Antônio, ficamos sabendo pelo narrador que "houve um tempo em que o salão ficava lotado. No tempo de Antônio, não. Como a cada semana ia-se embora um, os pares foram se desfazendo, deixando cada vez mais ímpares desemparelhados. Depois foi a vez dos ímpares irem ficando também cada vez menos, coitados desses, é impressionante como os números ímpares são muito mais tristes do que os pares".
Adriana Falcão escreve roteiros para séries como "A Grande Família" e também foi roteirista de "Comédias da Vida Privada", esta última baseada na obra de Luis Fernando Verissimo, que afirma: "A prosa de Adriana tem sortilégio. A gente se encanta com ela no sentido de se deliciar mas também no sentido de cobra hipnotizada". Como diria Antônio, "A Máquina" é livro bom "que só a gota"...
A máquina é uma fábula que fala de amor, desencontros, encontros entre os personagens de Antônio e Karina.