Coração de Tinta é uma obra incomum que acidentalmente vai parar nas mãos de Mo, o pai de Meggie, um talentoso restaurador de livros. Ele e sua esposa Teresa cultivam um amor sem igual pela literatura, o qual procuram desde cedo transmitir para a filha, então com três anos. Mortimer, nome de batismo do progenitor de Meggie, cultivava o hábito de ler em voz alta para a mulher. Mas ele desconhecia ter o dom de dar vida às histórias e aos personagens, até decidir mergulhar nas páginas deste livro misterioso, repleto de aventuras, terríveis vilões, fadas e duendes.
Ao enunciar as palavras contidas nesta narrativa, elas ganham existência concreta e, subitamente, materializam-se diante da família os sombrios Capricórnio e Basta, além do enigmático saltimbanco Dedo Empoeirado. Confusos e perplexos, os bandidos investem contra Mo, pois querem retornar ao livro; sem sucesso, fogem da casa, deixando o aturdido engolidor de fogo, acompanhado de sua marta provida de chifres, para trás. É então que o narrador de estórias percebe que sua esposa e os dois gatos de estimação desapareceram, ou seja, mergulharam no interior da trama de Coração de Tinta.
Mo tenta por muito tempo resgatar sua companheira, lendo e relendo o livro, sempre distante de Meggie, para que ela não corresse nenhum risco. Tudo em vão. O tempo passa e a menina agora já completou doze anos. Em uma noite chuvosa, porém, o passado retorna, na figura de Dedo Empoeirado, que regressa das brumas do tempo em busca do livro que sempre fora seu lar, enviado por Capricórnio, que deseja ardentemente resgatar esta peça literária, com certeza para fins escusos. Mo, porém, também precisa desesperadamente manter consigo esta obra, pois não perdeu a esperança de rever sua esposa. Assim, ele opta por fugir com a filha, justamente para a casa de Elinor, tia de Teresa, que mora em uma área próxima dos lagos italianos, e mantém em sua residência uma biblioteca de extremo valor.
Poster do filme baseado no livro.Neste momento tem início uma jornada arrepiante, não só pelas narrativas que só têm espaço no interior dos livros, mas pela própria história da criação literária. A autora tece de tal forma a trajetória dos personagens, que às vezes fica difícil estabelecer uma fronteira entre o que é real e o que pertence ao universo da ficção. O destino dos habitantes dos livros é debatido como se eles fossem criaturas reais.
Enquanto o Homem e sua existência estão nas mãos de um Criador oculto, os fios que tecem a vida e a fortuna de cada personagem são manipulados pelo escritor e, nesta obra, também parcialmente pelo narrador, Mo, a quem cabe levar ou não Dedo Empoeirado, que em sua fé no poder do contador de histórias o chama de Língua Encantada, de volta para o seu mundo, mesmo sabendo qual será o desfecho de sua participação na trama. O engolidor de fogo desconhece seu destino, como o próprio ser humano, que ignora o que o aguarda no final de sua jornada.
Em dado momento da narrativa, a autora, através de Fenoglio, descreve deliciosamente o ato narrativo. Nesta passagem, ela expõe sua visão sobre a criação literária, revelando que o autor nunca desvenda diante do leitor toda a riqueza implícita da história. Há segredos que ele só divide com seus personagens, portanto permanecem nas entrelinhas, não são impressos nas páginas dos livros. Basta que o escritor os conheça.
Answers & Comments
Verified answer
Coração de Tinta é uma obra incomum que acidentalmente vai parar nas mãos de Mo, o pai de Meggie, um talentoso restaurador de livros. Ele e sua esposa Teresa cultivam um amor sem igual pela literatura, o qual procuram desde cedo transmitir para a filha, então com três anos. Mortimer, nome de batismo do progenitor de Meggie, cultivava o hábito de ler em voz alta para a mulher. Mas ele desconhecia ter o dom de dar vida às histórias e aos personagens, até decidir mergulhar nas páginas deste livro misterioso, repleto de aventuras, terríveis vilões, fadas e duendes.
Ao enunciar as palavras contidas nesta narrativa, elas ganham existência concreta e, subitamente, materializam-se diante da família os sombrios Capricórnio e Basta, além do enigmático saltimbanco Dedo Empoeirado. Confusos e perplexos, os bandidos investem contra Mo, pois querem retornar ao livro; sem sucesso, fogem da casa, deixando o aturdido engolidor de fogo, acompanhado de sua marta provida de chifres, para trás. É então que o narrador de estórias percebe que sua esposa e os dois gatos de estimação desapareceram, ou seja, mergulharam no interior da trama de Coração de Tinta.
Mo tenta por muito tempo resgatar sua companheira, lendo e relendo o livro, sempre distante de Meggie, para que ela não corresse nenhum risco. Tudo em vão. O tempo passa e a menina agora já completou doze anos. Em uma noite chuvosa, porém, o passado retorna, na figura de Dedo Empoeirado, que regressa das brumas do tempo em busca do livro que sempre fora seu lar, enviado por Capricórnio, que deseja ardentemente resgatar esta peça literária, com certeza para fins escusos. Mo, porém, também precisa desesperadamente manter consigo esta obra, pois não perdeu a esperança de rever sua esposa. Assim, ele opta por fugir com a filha, justamente para a casa de Elinor, tia de Teresa, que mora em uma área próxima dos lagos italianos, e mantém em sua residência uma biblioteca de extremo valor.
Poster do filme baseado no livro.Neste momento tem início uma jornada arrepiante, não só pelas narrativas que só têm espaço no interior dos livros, mas pela própria história da criação literária. A autora tece de tal forma a trajetória dos personagens, que às vezes fica difícil estabelecer uma fronteira entre o que é real e o que pertence ao universo da ficção. O destino dos habitantes dos livros é debatido como se eles fossem criaturas reais.
Enquanto o Homem e sua existência estão nas mãos de um Criador oculto, os fios que tecem a vida e a fortuna de cada personagem são manipulados pelo escritor e, nesta obra, também parcialmente pelo narrador, Mo, a quem cabe levar ou não Dedo Empoeirado, que em sua fé no poder do contador de histórias o chama de Língua Encantada, de volta para o seu mundo, mesmo sabendo qual será o desfecho de sua participação na trama. O engolidor de fogo desconhece seu destino, como o próprio ser humano, que ignora o que o aguarda no final de sua jornada.
Em dado momento da narrativa, a autora, através de Fenoglio, descreve deliciosamente o ato narrativo. Nesta passagem, ela expõe sua visão sobre a criação literária, revelando que o autor nunca desvenda diante do leitor toda a riqueza implícita da história. Há segredos que ele só divide com seus personagens, portanto permanecem nas entrelinhas, não são impressos nas páginas dos livros. Basta que o escritor os conheça.