Os episódios ligados à Guerra Fria estiveram, geralmente, cercados por demonstrações de poder que visavam indicar a supremacia do mundo capitalista sobre o socialista, ou vice-versa. Eleito em 2 de dezembro de 1945, o presidente Eurico Gaspar Dutra - o mesmo que em 1935 comandou a repressão à Intentona Comunista nas cidades do Rio de Janeiro, Natal e Recife durante o governo de Getúlio Vargas, de quem foi ministro da Guerra - definiu-se no plano da política externa como aliado dos Estados Unidos, ingressando oficialmente no cenário da Guerra Fria com a assinatura em setembro de 1947 do tratado de assistência mútua, entre os 2 paíse. Além disso, na IX Conferência Interamericana, realizada em Bogotá, o Brasil associou-se ao sistema de segurança do hemisfério ocidental atlântico. Em 1947, um acórdão do Tribunal Superior Eleitoral considerou fora da lei o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e no ano seguinte o Brasil romperia relações com a União Soviética.
Em seguida Getúlio Vargas, no seu segundo governo, acendeu velas para dois senhores, querendo abraçar setores com diferentes aspirações políticas aliou-se tanto aos liberalistas - representados pelo empresariado nacional e militares, que defendiam a abertura da economia nacional ao capital estrangeiro e adoção de medidas monetaristas que controlariam as atividades econômicas e os índices inflacionários - quanto aos nacionalistas - que contavam com trabalhadores e representantes de esquerda e eram favoráveis a um projeto de desenvolvimento que contava com a participação maciça do Estado na economia e a rejeição ao capital estrangeiro. Deve-se observar, contudo, que o alinhamento brasileiro e de outros países latino-americanos nem sempre se dava de maneira incondicional, pois, se de um lado, os EUA impunham a sua política externa ao Hemisfério Ocidental, as nações subalternas, muitas vezes, procuravam explorar a rivalidade entre Washington e Moscou, objetivando atender a certos interesses regionais ou nacionais. Os EUA convocaram a IV Conferência dos Ministros das Relações Exteriores dos Estados Americanos, ocorrida em Washington, em março de 1951, na esperança de obter apoios concretos para a ação norte-americana na Guerra da Coréia. Na reunião, foram aprovados documentos que confirmavam o alinhamento dessas nações aos EUA, contudo ficou evidente o caráter meramente formal dessas medidas. Os EUA viram frustrados os seus propósitos, uma vez que esperavam um apoio como, por exemplo, o envio de tropas para a região do conflito. Em discurso, representando os seus colegas latino-americanos, o ministro brasileiro, Neves da Fontoura, afirmou o desejo de cooperação com os EUA na elaboração de um plano de emergência para a defesa do hemisfério, mas ao mesmo tempo realçou a expectativa de um plano de apoio ao desenvolvimento econômico da região, após a guerra. Destacou que após o fim da II Guerra Mundial, as economias latino-americanas, que haviam sido redirecionadas para alimentar os esforços de guerra, se viram em profunda crise, sem que recebessem a atenção devida, uma vez que os EUA concentravam os seus esforços na reconstrução da Europa.
Em março de 1953, Getúlio Vargas colocou em disponibilidade não remunerada diplomatas acusados de ligações ou simpatias para com o Partido Comunista. As punições foram revogadas pelo Supremo Tribunal Federal, que decidiu por unanimidade anular o processo administrativo, reintegrandoaos seus postos os réus que nem mesmo sabiam que corria um processo contra eles e tiveram dessa forma impedidos os direitos de defesa, além do fato de que as provas contra eles provieram de correspondências intereceptadas ilegalmente.
Depois da Revoluçao Cubana, os EUA voltaram a atenção para o maior e mais importante país da América Latina, o Brasil. No início dos anos 60, a situação no Brasil era de instabilidade política. Em 25 de agosto de 1961, o presidente Jânio Quadros renunciou ao cargo sete meses depois de eleito, numa frustrada manobra política para ampliar seus poderes. O Congresso aceitou a renúncia e o país mergulhou numa séria crise política. Os militares não queriam a posse do vice de Jânio, João Goulart, um político identificado com o trabalhismo de Getúlio Vargas e com forças comunistas. Num primeiro momento, a crise foi contornada com o artifício da implantação do sistema parlamentarista e Jango tomou posse. Em 62, no entanto, as centrais sindicais convocaram greves gerais por melhores condições de trabalho e para exigir do governo um ministério nacionalista e democrático. O avanço das lutas trabalhistas e o prestígio de líderes como Luís Carlos Prestes, dirigente do Partido Comunista Brasileiro, assustavam os setores mais conservadores da classe média e da Igreja Católica. Políticos influentes, grupos de direita, setores da igreja e donas-de-casa organizaram passeatas em defesa da religião, da família e da liberdade, valores que julgavam ameaçados pelo avanço comunista. A sociedade marchava para uma crise de graves proporções.
"O período logo após a renúncia de Jânio Quadros foi de intensa efervescência na política e na sociedade, nos movimentos populares, sindicais, estudantis e principalmente nos considerados mais perigosos, os movimentos das ligas camponesas. É assim que se constrói a democracia, com a participação dos vários segmentos da sociedade. Mas isso foi considerado extremamente ameaçador para os grupos dominantes e também para a imensa classe média, que foi muito mobilizada pelo medo. Medo de descer na escala social, a chamada proletarização da classe média. Esse medo foi bem manipulado e explorado pelos setores dominantes, que alardeavam o que se considerava as duas grandes ameaças para o Brasil: a corrupção, associada aos antigos políticos do getulismo e incorporada pelo presidente João Goulart, e a subversão, associada ao perigo do comunismo. Tudo isso levou a um tal clima de medo que, em nome da segurança, da estabilidade e até mesmo da paz da família brasileira, aceitou-se essa violência que foi o golpe militar de 64."
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Os episódios ligados à Guerra Fria estiveram, geralmente, cercados por demonstrações de poder que visavam indicar a supremacia do mundo capitalista sobre o socialista, ou vice-versa. Eleito em 2 de dezembro de 1945, o presidente Eurico Gaspar Dutra - o mesmo que em 1935 comandou a repressão à Intentona Comunista nas cidades do Rio de Janeiro, Natal e Recife durante o governo de Getúlio Vargas, de quem foi ministro da Guerra - definiu-se no plano da política externa como aliado dos Estados Unidos, ingressando oficialmente no cenário da Guerra Fria com a assinatura em setembro de 1947 do tratado de assistência mútua, entre os 2 paíse. Além disso, na IX Conferência Interamericana, realizada em Bogotá, o Brasil associou-se ao sistema de segurança do hemisfério ocidental atlântico. Em 1947, um acórdão do Tribunal Superior Eleitoral considerou fora da lei o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e no ano seguinte o Brasil romperia relações com a União Soviética.
Em seguida Getúlio Vargas, no seu segundo governo, acendeu velas para dois senhores, querendo abraçar setores com diferentes aspirações políticas aliou-se tanto aos liberalistas - representados pelo empresariado nacional e militares, que defendiam a abertura da economia nacional ao capital estrangeiro e adoção de medidas monetaristas que controlariam as atividades econômicas e os índices inflacionários - quanto aos nacionalistas - que contavam com trabalhadores e representantes de esquerda e eram favoráveis a um projeto de desenvolvimento que contava com a participação maciça do Estado na economia e a rejeição ao capital estrangeiro. Deve-se observar, contudo, que o alinhamento brasileiro e de outros países latino-americanos nem sempre se dava de maneira incondicional, pois, se de um lado, os EUA impunham a sua política externa ao Hemisfério Ocidental, as nações subalternas, muitas vezes, procuravam explorar a rivalidade entre Washington e Moscou, objetivando atender a certos interesses regionais ou nacionais. Os EUA convocaram a IV Conferência dos Ministros das Relações Exteriores dos Estados Americanos, ocorrida em Washington, em março de 1951, na esperança de obter apoios concretos para a ação norte-americana na Guerra da Coréia. Na reunião, foram aprovados documentos que confirmavam o alinhamento dessas nações aos EUA, contudo ficou evidente o caráter meramente formal dessas medidas. Os EUA viram frustrados os seus propósitos, uma vez que esperavam um apoio como, por exemplo, o envio de tropas para a região do conflito. Em discurso, representando os seus colegas latino-americanos, o ministro brasileiro, Neves da Fontoura, afirmou o desejo de cooperação com os EUA na elaboração de um plano de emergência para a defesa do hemisfério, mas ao mesmo tempo realçou a expectativa de um plano de apoio ao desenvolvimento econômico da região, após a guerra. Destacou que após o fim da II Guerra Mundial, as economias latino-americanas, que haviam sido redirecionadas para alimentar os esforços de guerra, se viram em profunda crise, sem que recebessem a atenção devida, uma vez que os EUA concentravam os seus esforços na reconstrução da Europa.
Em março de 1953, Getúlio Vargas colocou em disponibilidade não remunerada diplomatas acusados de ligações ou simpatias para com o Partido Comunista. As punições foram revogadas pelo Supremo Tribunal Federal, que decidiu por unanimidade anular o processo administrativo, reintegrandoaos seus postos os réus que nem mesmo sabiam que corria um processo contra eles e tiveram dessa forma impedidos os direitos de defesa, além do fato de que as provas contra eles provieram de correspondências intereceptadas ilegalmente.
Depois da Revoluçao Cubana, os EUA voltaram a atenção para o maior e mais importante país da América Latina, o Brasil. No início dos anos 60, a situação no Brasil era de instabilidade política. Em 25 de agosto de 1961, o presidente Jânio Quadros renunciou ao cargo sete meses depois de eleito, numa frustrada manobra política para ampliar seus poderes. O Congresso aceitou a renúncia e o país mergulhou numa séria crise política. Os militares não queriam a posse do vice de Jânio, João Goulart, um político identificado com o trabalhismo de Getúlio Vargas e com forças comunistas. Num primeiro momento, a crise foi contornada com o artifício da implantação do sistema parlamentarista e Jango tomou posse. Em 62, no entanto, as centrais sindicais convocaram greves gerais por melhores condições de trabalho e para exigir do governo um ministério nacionalista e democrático. O avanço das lutas trabalhistas e o prestígio de líderes como Luís Carlos Prestes, dirigente do Partido Comunista Brasileiro, assustavam os setores mais conservadores da classe média e da Igreja Católica. Políticos influentes, grupos de direita, setores da igreja e donas-de-casa organizaram passeatas em defesa da religião, da família e da liberdade, valores que julgavam ameaçados pelo avanço comunista. A sociedade marchava para uma crise de graves proporções.
"O período logo após a renúncia de Jânio Quadros foi de intensa efervescência na política e na sociedade, nos movimentos populares, sindicais, estudantis e principalmente nos considerados mais perigosos, os movimentos das ligas camponesas. É assim que se constrói a democracia, com a participação dos vários segmentos da sociedade. Mas isso foi considerado extremamente ameaçador para os grupos dominantes e também para a imensa classe média, que foi muito mobilizada pelo medo. Medo de descer na escala social, a chamada proletarização da classe média. Esse medo foi bem manipulado e explorado pelos setores dominantes, que alardeavam o que se considerava as duas grandes ameaças para o Brasil: a corrupção, associada aos antigos políticos do getulismo e incorporada pelo presidente João Goulart, e a subversão, associada ao perigo do comunismo. Tudo isso levou a um tal clima de medo que, em nome da segurança, da estabilidade e até mesmo da paz da família brasileira, aceitou-se essa violência que foi o golpe militar de 64."
Vá ao link abaixo, abraços e BN
http://www.webartigos.com/articles/17517/1/os-refl...
Ditadura militar. Com a desculpa de combater o comunismo, muita gente morreu, os militares fizeram muita besteira.