Meu fado é o de não entender quase tudo.
Prepondero a sandeu.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não cultivo conexões com o real.
Para mim, poderoso não é aquele que descobre ouro,
Poderoso para mim é aquele que descobre as insignificâncias:(do mundo e nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei muito emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios." Manoel de Barros
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O texto está incorretamente digitado, misturando versos com a pergunta. A transcrição correta é:
Poema
A poesia está guardada nas palavras - é tudo que
eu sei.
Meu fado é o de não entender quase tudo.
Prepondero a sandeu.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não cultivo conexões com o real.
Para mim, poderoso não é aquele que descobre ouro,
Poderoso para mim é aquele que descobre as insignificâncias:
(do mundo e nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei muito emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.
Manoel de Barros (In: O Encantador de Palavras)
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O poema ressalta o eterno aprender que existe em tudo (e quem acha que sabe tudo ou muito, ilude-se): "sobre o nada eu tenho profundidades" equivale a dizer que o eu do poema reconhece plenamente sua profunda ignorância, o muito a aprender que há sempre.
Quando se trata de poesia, então, com suas sutilezas repletas de múltiplos significados (pois a poesia não é o poema -- "corpo" físico da idéia poética --, mas aquilo que dele pode (ou não) desprender-se, como um perfume: sensações, compreensões, o célebre "não sei que", perceptível sob forma de emoção estética mas difícil de traduzir / explicar em palavras), a ignorância aprofunda-se mais ainda e a busca da poesia revela-se especialmente complexa.
O que o eu do poema em questão faz é reconhecer humilde e ironicamente ("sou fraco para elogios", ao ser tachado de imbecil por admirar os que são capazes de descobrir as aparentes insignificâncias de seres e coisas) a dimensão deste não-saber e, ao admitir essa ignorância, abre-se para o aprendizado e para o novo que a criação poética exige.
Parece-me, mais, uma troça.
O autor define-se como um tolo, um pateta, com uma vida medÃocre, sem traço de cultura e um tanto lunático.
Com esse currÃculo ele não poderia "descobrir as insignificancias..." e não entender o 'elogio'.
Pergunto -não está faltando pedaço, parte da obra?