A história de Sabina Spielrein vista através da lente do cineasta italiano Roberto Faenza, levanta inúmeras questões p/ além do tema central que aborda a paixão entre ela e Carl Gustav Jung, seu psiquiatra. Em 1904 Sabina é levada por seus pais p/ o Hospital Psiquiátrico de Burghölzli, em Zurique, onde Jung, recém nomeado 1º assistente do Dr. Eugene Bleuler, faz seus 1ºs experimentos c/ o método de associação de palavras e repudia veementemente os procedimentos arcaicos da psiquiatria. Sabina viria a ser uma das 1ªs pacientes submetidas à nova técnica q hj conhecemos como associação livre. Portanto, p/ Jung, q ainda era discípulo de Freud, a cura desta paciente, cujo diagnóstico era histeria, implicava não apenas em seu reconhecimento profissional, mas tb na possibilidade de superar os tão desumanos tratamentos a q eram submetidos os pacientes psiquiátricos.
Por outro lado, Sabina, ao pressentir em Jung a possibilidade de ser compreendida e amada, passa, após um período de total negação, a aceitar o tratamento. O encontro de Sabina e Jung perpetua a incógnita da transferência e contra-transferência e sua significativa importância no processo de cura, sempre presente nas discussões em psicanálise. Neste caso, tal incógnita é levada ao extremo e uma avassaladora paixão rompe resistências, apesar dos riscos q representa p/ ambos. Sabina sabe do casamento de Jung, q sabe das implicações éticas de um romance entre um médico e sua paciente. Vale apontar q a exigências de “neutralidade” e de “impessoalidade” impostas ao analista e tidas como pressupostos p/ sua eficácia na interpretação da transferência, atravessa a história da psicanálise, mas atualmente começa a ser questionada, embora timidamente.
A necessidade e/ou opção de Jung pela renúncia à sua paixão e seu pedido, ou imposição, pois beira mesmo a uma certa chantagem, p/ q a amante seja amiga de sua esposa, remete Sabina à busca de si mesma. Não é por acaso q estuda medicina, se especializa em psicanálise, e troca correspondências c/ Freud: interditado, o objeto do desejo sobrevive, através da identificação. Há uma cena muito significativa em q Sabina, ainda internada, (sua alta do hospital ocorre em 1905, após quase 1 ano de tratamento), reage c/ uma tentativa de suicídio ao sentir-se traída por Jung q se ausenta por alguns dias. No retorno deste, ela lhe mostra seu testamento, segundo o qual sua cabeça é oferecida a Jung, p/ q a disseque e a estude. Em agradecimento, ele lhe presenteia c/ um seixo q representa sua alma.
A impossibilidade de metáfora de Sabina em um surto de psicose histérica, representada por esta doação, no real, de parte de seu corpo, contrasta c/ a total simbologia q Jung atribui ao seixo. Por outro lado, Sabina precipita em Jung sua decisão de rompimento, qdo lhe pede um filho, ou quem sabe, permissão p/ a maternidade, uma vez q sua crença de q seria incapaz p/ ser mãe estaria no âmago de sua estrutura histérica, pois impossibilitaria a realização de seu imenso desejo de procriação, localizado no enredo de forma sensível ao focaliza-la em sua obsessão em modelar gatinhos em argila. Mas, ao contrário do previsível: não suportar o rompimento e desestruturar-se, a ex paciente, e ex amante de Jung, além de tornar-se mãe, dedica-se à psicanálise de crianças e dirige uma famosa escola soviética, conhecida como Escola Branca ou Creche Branca.
A partir da separação dos amantes, é o contexto histórico-social em q os personagens estão inseridos q parece servir de bússola ao roteiro, aliás, polifônico: constam na ficha técnica 6 roteiristas. Mas a regência de Roberto Faenza dá o tom deliciosamente melodramático em pelo menos 2 momentos: na cena em q Sabina reúne os pacientes no sanatório p/ um baile improvisado ao som do piano, demonstrando toda sua vivacidade e contagiando os demais, o q sinaliza sua saída do estado psicótico; e naquela em q um senhor russo narra a história de um menino apático e solitário q mantinha os dedos entrelaçados e recusava qq contato. Através de flashback, recurso talvez banal, mas eficaz, vamos sabendo como a diretora da Escola Branca logrou, após inúmeras tentativas, desatar os dedos desta criança e provocar seu sorriso. O menino era o próprio narrador.
Costurado por uma situação contemporânea em que um historiador e uma suposta descendente de Sabina Spielrein se unem por, em última análise, estarem interessados na pesquisa de um mesmo tema, o enredo pode, p/ alguns, incomodar por sua fragmentação. No entanto, parece-me absolutamente coerente c/ o destino de Sabina, q aderiu à revolução russa p/ dpois ter q enfrentar Stálin, e acaba sendo executada por soldados nazistas (era judia), junto c/ suas 2 filhas, em uma sinagoga de Rostov, sua cidade de origem. Por fim, parte de seu diário, e não seu diário completo, é encontrado na década de 70 e é a partir dele q a dupla de pesquisadores nos guia nesta jornada p/ a alma de uma mulher q, ao percorrer o caminho da loucura, encontra sua própria capacidade de promover a cura, a sua e a de outros.
Dois pesquisadores, a estudante francesa Marie, e o historiador escocês Fraser, começam a investigar os fatos relatados no diário de Sabina Spielrein, descoberto em 1977. À medida em que trechos do diário são lidos, o filme, através de flashback, volta no tempo a 1904.
Em agosto de 1904, Sabina, uma jovem russa de 18 anos, é internada no Hospital Psiquiátrico Burhölzli de Zurique, Suiça. Ela sofre de uma severa histeria, sendo assistida pelo jovem médico, Carl Gustav Jung, que aproveita o caso para aplicar pela primeira vez as teorias de seu mestre, Sigmund Freud: a psicanálise.
Pouco a pouco, ao longo do tratamento, Sabina desenvolve uma paixão por seu médico que, embora casado, também vai-se afeiçoando a ela, nascendo assim um amor proibido entre os dois jovens. Em junho de 1905, ela aluga um apartamento mas continua a se encontrar com o Dr. Jung. Com a saúde melhor, inicia seus estudos de medicina.
Alguns anos depois, com a mulher grávida e usando de uma racionalidade enriquecida pelos princípios psicanalíticos, Jung decide abdicar desse amor em nome de uma posição acadêmica e intelectual. A paixão de Sabina por Jung é tamanha que ela chega a declarar ser amante do médico diante de Emma, sua mulher, e de seus colegas psicanalistas.
Formada em medicina, Sabina retorna à Rússia pós-revolucionária, onde se torna psicanalista e funda a famosa Escola Branca, uma organização que utiliza noções de psicanálise para crianças. Embora menos conhecida que Freud e Jung, Sabina Spielrein torna-se uma das mais importantes psicanalistas da história.
Sabina é morta por nazistas em 1942, em Rostov, Rússia, juntamente com outros judeus.
Voltando ao presente, Marie e Fraser continuam suas investigações e terminam encontrando o último aluno da Escola Branca que continua vivo, com mais de 80 anos, e que se lembra dela com muito carinho.
Críticas
Baseado em anotações do diário de Sabina Spielrein e de correspondências por ela trocadas com os Drs. Sigmund Freud e Carl Jung, "Jornada da Alma" retrata um pouco da vida dessa brilhante e fascinante mulher e psicanalista.
Escrito e dirigido pelo cineasta italiano Roberto Faenza, o filme apresenta bons momentos, especialmente quando Jung, no início de carreira, conhece Sabine, sua primeira cliente, ou quando decide utilizar métodos modernos comparados com os de seus colegas de hospital.
Faenza realiza um bom trabalho, tanto na estruturação do roteiro quanto na direção. A fotografia de Maurizio Calvesi é um dos pontos altos do filme. No elenco, o grande destaque fica por conta da magnífica atuação de Emilia Fox, seguida pelas de Iain Glen e Jane Alexander.
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* Filme Jornada da Alma:
A história de Sabina Spielrein vista através da lente do cineasta italiano Roberto Faenza, levanta inúmeras questões p/ além do tema central que aborda a paixão entre ela e Carl Gustav Jung, seu psiquiatra. Em 1904 Sabina é levada por seus pais p/ o Hospital Psiquiátrico de Burghölzli, em Zurique, onde Jung, recém nomeado 1º assistente do Dr. Eugene Bleuler, faz seus 1ºs experimentos c/ o método de associação de palavras e repudia veementemente os procedimentos arcaicos da psiquiatria. Sabina viria a ser uma das 1ªs pacientes submetidas à nova técnica q hj conhecemos como associação livre. Portanto, p/ Jung, q ainda era discípulo de Freud, a cura desta paciente, cujo diagnóstico era histeria, implicava não apenas em seu reconhecimento profissional, mas tb na possibilidade de superar os tão desumanos tratamentos a q eram submetidos os pacientes psiquiátricos.
Por outro lado, Sabina, ao pressentir em Jung a possibilidade de ser compreendida e amada, passa, após um período de total negação, a aceitar o tratamento. O encontro de Sabina e Jung perpetua a incógnita da transferência e contra-transferência e sua significativa importância no processo de cura, sempre presente nas discussões em psicanálise. Neste caso, tal incógnita é levada ao extremo e uma avassaladora paixão rompe resistências, apesar dos riscos q representa p/ ambos. Sabina sabe do casamento de Jung, q sabe das implicações éticas de um romance entre um médico e sua paciente. Vale apontar q a exigências de “neutralidade” e de “impessoalidade” impostas ao analista e tidas como pressupostos p/ sua eficácia na interpretação da transferência, atravessa a história da psicanálise, mas atualmente começa a ser questionada, embora timidamente.
A necessidade e/ou opção de Jung pela renúncia à sua paixão e seu pedido, ou imposição, pois beira mesmo a uma certa chantagem, p/ q a amante seja amiga de sua esposa, remete Sabina à busca de si mesma. Não é por acaso q estuda medicina, se especializa em psicanálise, e troca correspondências c/ Freud: interditado, o objeto do desejo sobrevive, através da identificação. Há uma cena muito significativa em q Sabina, ainda internada, (sua alta do hospital ocorre em 1905, após quase 1 ano de tratamento), reage c/ uma tentativa de suicídio ao sentir-se traída por Jung q se ausenta por alguns dias. No retorno deste, ela lhe mostra seu testamento, segundo o qual sua cabeça é oferecida a Jung, p/ q a disseque e a estude. Em agradecimento, ele lhe presenteia c/ um seixo q representa sua alma.
A impossibilidade de metáfora de Sabina em um surto de psicose histérica, representada por esta doação, no real, de parte de seu corpo, contrasta c/ a total simbologia q Jung atribui ao seixo. Por outro lado, Sabina precipita em Jung sua decisão de rompimento, qdo lhe pede um filho, ou quem sabe, permissão p/ a maternidade, uma vez q sua crença de q seria incapaz p/ ser mãe estaria no âmago de sua estrutura histérica, pois impossibilitaria a realização de seu imenso desejo de procriação, localizado no enredo de forma sensível ao focaliza-la em sua obsessão em modelar gatinhos em argila. Mas, ao contrário do previsível: não suportar o rompimento e desestruturar-se, a ex paciente, e ex amante de Jung, além de tornar-se mãe, dedica-se à psicanálise de crianças e dirige uma famosa escola soviética, conhecida como Escola Branca ou Creche Branca.
A partir da separação dos amantes, é o contexto histórico-social em q os personagens estão inseridos q parece servir de bússola ao roteiro, aliás, polifônico: constam na ficha técnica 6 roteiristas. Mas a regência de Roberto Faenza dá o tom deliciosamente melodramático em pelo menos 2 momentos: na cena em q Sabina reúne os pacientes no sanatório p/ um baile improvisado ao som do piano, demonstrando toda sua vivacidade e contagiando os demais, o q sinaliza sua saída do estado psicótico; e naquela em q um senhor russo narra a história de um menino apático e solitário q mantinha os dedos entrelaçados e recusava qq contato. Através de flashback, recurso talvez banal, mas eficaz, vamos sabendo como a diretora da Escola Branca logrou, após inúmeras tentativas, desatar os dedos desta criança e provocar seu sorriso. O menino era o próprio narrador.
Costurado por uma situação contemporânea em que um historiador e uma suposta descendente de Sabina Spielrein se unem por, em última análise, estarem interessados na pesquisa de um mesmo tema, o enredo pode, p/ alguns, incomodar por sua fragmentação. No entanto, parece-me absolutamente coerente c/ o destino de Sabina, q aderiu à revolução russa p/ dpois ter q enfrentar Stálin, e acaba sendo executada por soldados nazistas (era judia), junto c/ suas 2 filhas, em uma sinagoga de Rostov, sua cidade de origem. Por fim, parte de seu diário, e não seu diário completo, é encontrado na década de 70 e é a partir dele q a dupla de pesquisadores nos guia nesta jornada p/ a alma de uma mulher q, ao percorrer o caminho da loucura, encontra sua própria capacidade de promover a cura, a sua e a de outros.
JORNADA DA ALMA (2002)
Sinopse
Dois pesquisadores, a estudante francesa Marie, e o historiador escocês Fraser, começam a investigar os fatos relatados no diário de Sabina Spielrein, descoberto em 1977. À medida em que trechos do diário são lidos, o filme, através de flashback, volta no tempo a 1904.
Em agosto de 1904, Sabina, uma jovem russa de 18 anos, é internada no Hospital Psiquiátrico Burhölzli de Zurique, Suiça. Ela sofre de uma severa histeria, sendo assistida pelo jovem médico, Carl Gustav Jung, que aproveita o caso para aplicar pela primeira vez as teorias de seu mestre, Sigmund Freud: a psicanálise.
Pouco a pouco, ao longo do tratamento, Sabina desenvolve uma paixão por seu médico que, embora casado, também vai-se afeiçoando a ela, nascendo assim um amor proibido entre os dois jovens. Em junho de 1905, ela aluga um apartamento mas continua a se encontrar com o Dr. Jung. Com a saúde melhor, inicia seus estudos de medicina.
Alguns anos depois, com a mulher grávida e usando de uma racionalidade enriquecida pelos princípios psicanalíticos, Jung decide abdicar desse amor em nome de uma posição acadêmica e intelectual. A paixão de Sabina por Jung é tamanha que ela chega a declarar ser amante do médico diante de Emma, sua mulher, e de seus colegas psicanalistas.
Formada em medicina, Sabina retorna à Rússia pós-revolucionária, onde se torna psicanalista e funda a famosa Escola Branca, uma organização que utiliza noções de psicanálise para crianças. Embora menos conhecida que Freud e Jung, Sabina Spielrein torna-se uma das mais importantes psicanalistas da história.
Sabina é morta por nazistas em 1942, em Rostov, Rússia, juntamente com outros judeus.
Voltando ao presente, Marie e Fraser continuam suas investigações e terminam encontrando o último aluno da Escola Branca que continua vivo, com mais de 80 anos, e que se lembra dela com muito carinho.
Críticas
Baseado em anotações do diário de Sabina Spielrein e de correspondências por ela trocadas com os Drs. Sigmund Freud e Carl Jung, "Jornada da Alma" retrata um pouco da vida dessa brilhante e fascinante mulher e psicanalista.
Escrito e dirigido pelo cineasta italiano Roberto Faenza, o filme apresenta bons momentos, especialmente quando Jung, no início de carreira, conhece Sabine, sua primeira cliente, ou quando decide utilizar métodos modernos comparados com os de seus colegas de hospital.
Faenza realiza um bom trabalho, tanto na estruturação do roteiro quanto na direção. A fotografia de Maurizio Calvesi é um dos pontos altos do filme. No elenco, o grande destaque fica por conta da magnífica atuação de Emilia Fox, seguida pelas de Iain Glen e Jane Alexander.
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