Espirometria é um exame que avalia a medida de ar que entra e sai dos pulmões. A palavra é proveniente do latim spirare, que significa respirar e metrum, que significa medida. Este exame tem caráter quantitativo e nunca qualitativo, sendo a clínica do paciente sempre soberana.
Sua Indicação tem como objetivo de diagnóstico e/ou acompanhamento de quadros pulmonares onde se há desconfiança de alteração da função pulmonar como nos processos broncoobstrutivos (DPOC) e /ou restritivos. Os valores diferem de país para país e a interpretação deve levar em conta dados clínicos e epidemiológicos.
Os espirômetros podem ser de duas categorias: deslocamento de volume e sensores de fluxo. Alguns espirômetros de volume não são computadorizados, são baratos e simples de operar. Os sensores de fluxo são computadorizados ou têm um microprocessador, e portanto permitem a realização de muitos testes rapidamente. Uma nova geração de espirômetros, ditos "de bolso", com sensores de fluxo, podem ser usados em consultórios. Nos últimos 2 a 3 anos, sua acurácia alcançou a dos equipamentos tradicionais.
2- Função Pulmonar ao longo da vida
A função pulmonar se comporta ao longo da vida da seguinte forma :
- Entre os 6 e os 14 anos de vida, a função tem um aumento progressivo e isto se deve a uma forte influência da estatura. Nos adolescentes, a variação é complexa e influenciada pela estatura, idade e peso ( ganho muscular).
- A função pulmonar máxima é obtida aos 20 anos no sexo feminino e aos 25 anos no sexo masculino. O pulmão deixa de crescer antes, porém, a força muscular se eleva no sexo masculino, o que eleva a capacidade vital.
- Após o máximo, a função pulmonar permanece estável até os 35 anos de idade aproximadamente, quando começa a decair gradualmente ao longo da vida. O VEF1 cai 28 ml/ano em média no sexo masculino e 21ml/ano no sexo feminino.
Contudo, é possível um indivíduo chegar ao início da vida adulta com uma menor função pulmonar e isto se deve a fatores que influenciaram ao longo de sua infância como o fumo passivo e ativo ou até mesmo, ser portador de hiperresponsividade brônquica.
Os fumantes susceptíveis perdem, em média, 60 ml/ano de VEF1, mas a variação individual é ampla, podendo chegar a centenas de ml, daí a importância de medidas seriadas anuais. Um fumante masculino de 50 anos e com VEF1 previsto de 3,60 l (limite inferior previsto de 3,0 l) e VEF1 encontrado de 2,16 l, perdeu teoricamente 0,84 l de VEF1 por efeito do cigarro, o que significa 30 anos a mais se a perda fosse a usual de 28 ml/ano. Pode-se contar ao doente que sua idade pulmonar estimada é de 80 anos.
3- Padrões pulmonares interpretados na Espirometria
Os padrões espirométricos que podem ser encontrados são distribuídos em 5 grupos:
1. Restritivo
2. Obstrutivo
3. Obstrutivo com capacidade vital reduzida
4. Misto ou Combinado
5. Inespecífico
1- Distúrbio Restritivo
Esta disfunção é caracterizada por ausência de obstrução e Capacidade vital Forçada (CVF) reduzida na presença de causa potencial para restrição. A relação VEF1/CVF é normal. A CVF normal pré ou pós broncodilatador exclui presença de distúrbio restritivo.
As doenças mais freqüentes para este distúrbio são a Fibrose Pulmonar Idiopática e a Sarcoidose. A Sarcoidose tem um prognóstico muito melhor, de modo que em dois pacientes com CV(F) de 60%, um com sarcoidose e outro com fibrose pulmonar idiopática , aquele com fibrose pulmonar estará em fase final; já o paciente com Sarcoidose raramente morrerá por efeito da doença.
Na Sarcoidose, a CV(F) espelha bem a extensão da doença e a resposta ao tratamento. Na Fibrose Pulmonar, a melhor correlação entre extensão da doença é refletida pela difusão do Dióxido de Carbono (CO2 ) e pela queda da Pressão parcial de oxigênio no sangue (PaO2) . Já a estabilização da CV(F) após meses de tratamento (ou não), em portadores de Fibrose pulmonar, assegura melhor prognóstico, com vários anos a mais de sobrevida.
A gravidade da disfunção pulmonar restritiva se caracteriza pela redução da capacidade pulmonar total (CPT), que é a soma do volume residual e da capacidade vital. A medida do Volume de reserva ( VR ) exige métodos especiais. Na falta de mensuração da CPT, a CV(F), expressa em porcentagem, é usada para graduar o DVR: abaixo de 50% é acentuado, e acima de 60%, leve; entre estes valores é classificado como moderado.
2- Distúrbio Obstrutivo
Este é caracterizado pela presença de obstrução nas vias aéreas, tendo o VEF1 reduzido e CV(F) normal. A relação VEF1/CVF estar diminuída.
Na obstrução, se o aprisionamento de ar elevar muito o volume residual, a capacidade vital pode estar reduzida e este se refere ao Distúrbio Obstrutivo com Capacidade Vital Reduzida. Quando a CVF se reduz pode levar a uma relação VEF1/CVF normal. Entretanto a causa mais freqüente de relação VEF1/CVF normal com distúrbio obstrutivo normal se deve a incorreta realização da manobra de CVF com pouco tempo de expiração.
Se a CV(F) estiver muito baixa, na presença de obstrução e na presença de doença clínica potencialmente restritiva associada (ex.: asma + obesidade), pode-se caracterizar Distúrbio Misto.
A obstrução na via aérea geralmente estar sinalizada pela relação VEF1/CV(F) reduzida. A obstrução leva a um esvaziamento mais lento dos pulmões, de modo que a relação cai.
O pico de fluxo expiratório estar como parâmetro avaliativo para o paciente asmático assim como, o VEF1 é o parâmetro espirométrico para documentar a história natural da DPOC.
O distúrbio obstrutivo é classificado em distúrbio leve, moderado e acentuado.
Pacientes com obstrução ao fluxo aéreo e VEF1 ou VEF1/CVF abaixo de 40% são classificados como portadores de distúrbio ventilatório obstrutivo (DVO) acentuado. Em DPOC, a sobrevida torna-se menor com a redução progressiva do VEF1, sendo especialmente afetada, quando os valores do VEF1 pós-broncodilatador situam-se abaixo de 40% do previsto. Pacientes com VEF1 e relação VEF1/CVF acima de 60% são classificados como portadores de DVO leve. Pacientes com valores intermediários são classificados como portadores de DVO moderado.
Ação dos Broncodilatadores durante a espirometria
Todos os pacientes com obstrução ao fluxo aéreo devem repetir o teste espirométrico após administração do BroncoDilatador (Bd). Existe um tônus brônquico de repouso, o que significa que haverá mudanças na espirometria após broncodilatador, mesmo em indivíduos normais.
Em indivíduos assintomáticos se a espirometria inicial é normal, a repetição após Bd não se justifica.
Em portadores de asma diagnosticada, a repetição após Bd pode mostrar incremento significativo, mesmo na ausência aparente de obstrução inicial. O laudo mudará para obstrução leve, desde que a resposta esperada em normais (10% de aumento do VEF1) seja excedida. Já na suspeita de asma, se a espirometria é normal, é preferível fazer um teste de broncoprovocação que tem sensibilidade muito maior para diagnóstico.
Em indivíduos com distúrbio aparentemente restritivo na espirometria, pode-se descobrir obstrução inaparente se houver elevação significativa do VEF1 (acima de 0,2 l) após Bd.
Em pacientes portadores de DPOC o paciente pode relatar melhora após Bd sem alterar o seu VEF1 e isto se deve ao fato do VEF1 ser um parâmetro derivado do início da manobra expiratória forçada e portanto reflete o esvaziamento de unidades pulmonares com vias aéreas mais permeáveis . Além disso a manobra expiratória forçada comprime dinamicamente as vias aéreas. Estas se tornam mais compressíveis pelo efeito do Bd. A obstrução em DPOC se dá nas vias aéreas periféricas. O aprisionamento de ar resulta em hiperinsuflação que é a causa fundamental da dispnéia. A redução do ar aprisionado (volume residual) após o Bd irá resultar em aumento da CV lenta e da capacidade inspiratória CI, que não é avaliada rotineiramente nas espirometrias.
3 - Distúrbio Ventilatório Combinado
O Consenso da Sociedade Brasileira Pneumologia e Tisiologia sugere que este distúrbio seja uma combinação dos distúrbios obstrutivo e restritivo.
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- Espirometria
Espirometria é um exame que avalia a medida de ar que entra e sai dos pulmões. A palavra é proveniente do latim spirare, que significa respirar e metrum, que significa medida. Este exame tem caráter quantitativo e nunca qualitativo, sendo a clínica do paciente sempre soberana.
Sua Indicação tem como objetivo de diagnóstico e/ou acompanhamento de quadros pulmonares onde se há desconfiança de alteração da função pulmonar como nos processos broncoobstrutivos (DPOC) e /ou restritivos. Os valores diferem de país para país e a interpretação deve levar em conta dados clínicos e epidemiológicos.
Os espirômetros podem ser de duas categorias: deslocamento de volume e sensores de fluxo. Alguns espirômetros de volume não são computadorizados, são baratos e simples de operar. Os sensores de fluxo são computadorizados ou têm um microprocessador, e portanto permitem a realização de muitos testes rapidamente. Uma nova geração de espirômetros, ditos "de bolso", com sensores de fluxo, podem ser usados em consultórios. Nos últimos 2 a 3 anos, sua acurácia alcançou a dos equipamentos tradicionais.
2- Função Pulmonar ao longo da vida
A função pulmonar se comporta ao longo da vida da seguinte forma :
- Entre os 6 e os 14 anos de vida, a função tem um aumento progressivo e isto se deve a uma forte influência da estatura. Nos adolescentes, a variação é complexa e influenciada pela estatura, idade e peso ( ganho muscular).
- A função pulmonar máxima é obtida aos 20 anos no sexo feminino e aos 25 anos no sexo masculino. O pulmão deixa de crescer antes, porém, a força muscular se eleva no sexo masculino, o que eleva a capacidade vital.
- Após o máximo, a função pulmonar permanece estável até os 35 anos de idade aproximadamente, quando começa a decair gradualmente ao longo da vida. O VEF1 cai 28 ml/ano em média no sexo masculino e 21ml/ano no sexo feminino.
Contudo, é possível um indivíduo chegar ao início da vida adulta com uma menor função pulmonar e isto se deve a fatores que influenciaram ao longo de sua infância como o fumo passivo e ativo ou até mesmo, ser portador de hiperresponsividade brônquica.
Os fumantes susceptíveis perdem, em média, 60 ml/ano de VEF1, mas a variação individual é ampla, podendo chegar a centenas de ml, daí a importância de medidas seriadas anuais. Um fumante masculino de 50 anos e com VEF1 previsto de 3,60 l (limite inferior previsto de 3,0 l) e VEF1 encontrado de 2,16 l, perdeu teoricamente 0,84 l de VEF1 por efeito do cigarro, o que significa 30 anos a mais se a perda fosse a usual de 28 ml/ano. Pode-se contar ao doente que sua idade pulmonar estimada é de 80 anos.
3- Padrões pulmonares interpretados na Espirometria
Os padrões espirométricos que podem ser encontrados são distribuídos em 5 grupos:
1. Restritivo
2. Obstrutivo
3. Obstrutivo com capacidade vital reduzida
4. Misto ou Combinado
5. Inespecífico
1- Distúrbio Restritivo
Esta disfunção é caracterizada por ausência de obstrução e Capacidade vital Forçada (CVF) reduzida na presença de causa potencial para restrição. A relação VEF1/CVF é normal. A CVF normal pré ou pós broncodilatador exclui presença de distúrbio restritivo.
As doenças mais freqüentes para este distúrbio são a Fibrose Pulmonar Idiopática e a Sarcoidose. A Sarcoidose tem um prognóstico muito melhor, de modo que em dois pacientes com CV(F) de 60%, um com sarcoidose e outro com fibrose pulmonar idiopática , aquele com fibrose pulmonar estará em fase final; já o paciente com Sarcoidose raramente morrerá por efeito da doença.
Na Sarcoidose, a CV(F) espelha bem a extensão da doença e a resposta ao tratamento. Na Fibrose Pulmonar, a melhor correlação entre extensão da doença é refletida pela difusão do Dióxido de Carbono (CO2 ) e pela queda da Pressão parcial de oxigênio no sangue (PaO2) . Já a estabilização da CV(F) após meses de tratamento (ou não), em portadores de Fibrose pulmonar, assegura melhor prognóstico, com vários anos a mais de sobrevida.
A gravidade da disfunção pulmonar restritiva se caracteriza pela redução da capacidade pulmonar total (CPT), que é a soma do volume residual e da capacidade vital. A medida do Volume de reserva ( VR ) exige métodos especiais. Na falta de mensuração da CPT, a CV(F), expressa em porcentagem, é usada para graduar o DVR: abaixo de 50% é acentuado, e acima de 60%, leve; entre estes valores é classificado como moderado.
2- Distúrbio Obstrutivo
Este é caracterizado pela presença de obstrução nas vias aéreas, tendo o VEF1 reduzido e CV(F) normal. A relação VEF1/CVF estar diminuída.
Na obstrução, se o aprisionamento de ar elevar muito o volume residual, a capacidade vital pode estar reduzida e este se refere ao Distúrbio Obstrutivo com Capacidade Vital Reduzida. Quando a CVF se reduz pode levar a uma relação VEF1/CVF normal. Entretanto a causa mais freqüente de relação VEF1/CVF normal com distúrbio obstrutivo normal se deve a incorreta realização da manobra de CVF com pouco tempo de expiração.
Se a CV(F) estiver muito baixa, na presença de obstrução e na presença de doença clínica potencialmente restritiva associada (ex.: asma + obesidade), pode-se caracterizar Distúrbio Misto.
A obstrução na via aérea geralmente estar sinalizada pela relação VEF1/CV(F) reduzida. A obstrução leva a um esvaziamento mais lento dos pulmões, de modo que a relação cai.
O pico de fluxo expiratório estar como parâmetro avaliativo para o paciente asmático assim como, o VEF1 é o parâmetro espirométrico para documentar a história natural da DPOC.
O distúrbio obstrutivo é classificado em distúrbio leve, moderado e acentuado.
Pacientes com obstrução ao fluxo aéreo e VEF1 ou VEF1/CVF abaixo de 40% são classificados como portadores de distúrbio ventilatório obstrutivo (DVO) acentuado. Em DPOC, a sobrevida torna-se menor com a redução progressiva do VEF1, sendo especialmente afetada, quando os valores do VEF1 pós-broncodilatador situam-se abaixo de 40% do previsto. Pacientes com VEF1 e relação VEF1/CVF acima de 60% são classificados como portadores de DVO leve. Pacientes com valores intermediários são classificados como portadores de DVO moderado.
Ação dos Broncodilatadores durante a espirometria
Todos os pacientes com obstrução ao fluxo aéreo devem repetir o teste espirométrico após administração do BroncoDilatador (Bd). Existe um tônus brônquico de repouso, o que significa que haverá mudanças na espirometria após broncodilatador, mesmo em indivíduos normais.
Em indivíduos assintomáticos se a espirometria inicial é normal, a repetição após Bd não se justifica.
Em portadores de asma diagnosticada, a repetição após Bd pode mostrar incremento significativo, mesmo na ausência aparente de obstrução inicial. O laudo mudará para obstrução leve, desde que a resposta esperada em normais (10% de aumento do VEF1) seja excedida. Já na suspeita de asma, se a espirometria é normal, é preferível fazer um teste de broncoprovocação que tem sensibilidade muito maior para diagnóstico.
Em indivíduos com distúrbio aparentemente restritivo na espirometria, pode-se descobrir obstrução inaparente se houver elevação significativa do VEF1 (acima de 0,2 l) após Bd.
Em pacientes portadores de DPOC o paciente pode relatar melhora após Bd sem alterar o seu VEF1 e isto se deve ao fato do VEF1 ser um parâmetro derivado do início da manobra expiratória forçada e portanto reflete o esvaziamento de unidades pulmonares com vias aéreas mais permeáveis . Além disso a manobra expiratória forçada comprime dinamicamente as vias aéreas. Estas se tornam mais compressíveis pelo efeito do Bd. A obstrução em DPOC se dá nas vias aéreas periféricas. O aprisionamento de ar resulta em hiperinsuflação que é a causa fundamental da dispnéia. A redução do ar aprisionado (volume residual) após o Bd irá resultar em aumento da CV lenta e da capacidade inspiratória CI, que não é avaliada rotineiramente nas espirometrias.
3 - Distúrbio Ventilatório Combinado
O Consenso da Sociedade Brasileira Pneumologia e Tisiologia sugere que este distúrbio seja uma combinação dos distúrbios obstrutivo e restritivo.
ok
o que é disturbio obstrutivo com redeção leve da cvf, agradeço
famoso DPOC
os alveolos ficam obstruindo o que impede a entrada no ar neles e com o tempo se torna uma doença grave
por isso cuide agora que ainda esta leve, pare de fumar para ontem