Anjo Bento
Destes que campam no mundo
Sem ter engenho profundo
E, entre gabos dos amigos,
Os vemos em papafigos
Sem tempestade, nem vento:
Anjo Bento!
De quem com letras secretas
Tudo o que alcança é por tretas,
Baculejando sem pejo,
Por matar o seu desejo,
Desde a manhã té à tarde:
Deus me guarde!
Do que passeia farfante,
Muito prezado de amante,
Por fora luvas, galões,
Insígnias, armas, bastões,
Por dentro pão bolorento:
Anjo Bento!
Destes beatos fingidos,
Cabisbaixos, encolhidos,
Por dentro fatais maganos,
Sendo nas caras uns Janos:
Que fazem do vício alarde:
Deus me guarde!
Que vejamos teso andar
Quem mal sabe engatinhar,
Muito inteiro e presumido,
Ficando o outro abatido
Com maior merecimento:
Anjo Bento!
Destes avaros mofinos,
Que põem na mesa pepinos,
De toda a iguaria isenta,
Com seu limão e pimenta,
Porque diz que o queima e arde:
Deus me guarde!
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Answers & Comments
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Bom, Gregório de Matos era um escritor extremamente polêmico por vários motivos: fazia críticas sociais muito ácidas, escrevia poesia erótica (se bem, que eu acho que era pornográfico mesmo em alguns momentos), criticava as elites bahianas.... enfim, era um desses caras que chegam em um lugar e falam aquilo que ninguém quer ouvir, ou seja: ele incomodava, e muito! A alcunha Boca do Inferno, no entanto, está relacionanda especificamente ao fato de Gregório de Matos fazer muitas críticas à igreja e ridicularizar muitas das figuras religiosas mais conhecidas da época.... a verdade é que devido a suas críticas muitos religiosos ficaram em maus lençóis, daí a expressão
"Boca do Inferno".
Esse soneto é uma clara crítica aos que se escondem por trás de uma batina, quando na verdade são pessoas sem caráter e sacanas.
É uma crítica à falsa moral da igreja católica.
Abraços.